O que é ser de esquerda, segundo Reinaldo Gonçalves
Ser de  esquerda implica em...
"Antes de mais nada precisamos  escapar das fortes limitações das visões das 'raparigas em flor do  keynesianismo' e dos 'heróis em sangue do marxismo'.
Penso que as  escolhas e os caminhos são, sem dúvida, pela esquerda.
Insisto  que este caminho significa reconhecer que o capitalismo é um sistema  irracional que inibe a capacidade do ser humano de dar sentido à vida,  ou seja, viver com dignidade, felicidade e liberdade.
Ser de  esquerda é o combate permanente por um projeto de orientação socialista.  É ignorância imaginar que ser de esquerda se restringe a defender  bandeiras como progresso econômico, reforma social, democracia,  integração regional e interesses nacionais. O centro e a direita também  defendem estas bandeiras, de uma forma ou de outra. É má-fé imaginar que  a distinção entre esquerda e direita se restringe ao ideário econômico  via a armadilha binária “Estado versus mercado”. Defender um Estado que é  capturado por grupos dirigentes corruptos não é ser de esquerda.
Ser  de esquerda implica combater implacavelmente estes grupos dirigentes e  os setores dominantes retrógrados.
Ser de esquerda implica  compromisso com distribuição de riqueza (maior igualdade possível na  distribuição de riqueza, renda e conhecimento), controle social do  Estado (combater a apropriação do Estado por grupos dirigentes e grupos  econômicos) e uso social do excedente econômico (tributação,  planejamento e propriedade pública dos principais meios de produção).
Ser  de esquerda implica rejeitar tanto a política externa do “vira-lata”  como a do “camaleão falante” baseada em um antiimperialismo retórico,  ocasional e superficial.
Ser de esquerda é contrariar o  agronegócio e procurar o fortalecimento do padrão de comércio e a  rejeição da reprimarização do comércio via commodities.
Ser de  esquerda é contrariar o capital internacional e ter uma política  seletiva e criteriosa em relação aos investimentos de empresas  estrangeiras e não estimular e financiar com recursos públicos todo e  qualquer tipo de investimento externo direto.
Ser de esquerda é  reduzir as transferências de recursos para os rentistas da dívida  pública e procurar investir pesadamente na maior capacitação tecnológica  com saltos quantitativos e qualitativos na educação e no sistema  nacional de inovações.
Ser de esquerda é contrariar os bancos  nacionais e os estrangeiros e controlar os fluxos financeiros  internacionais e não dar tratamento especial a estes fluxos.
Ser  de esquerda é não fazer aliança com países avançados, como os EUA, para  fechar rodadas de negociação da OMC somente para favorecer o  agronegócio.
Ser de esquerda é não aceitar o pagamento de pedágio  para participar de fóruns internacionais de eficácia duvidosa, como o  G-20 financeiro.
Ser de esquerda é rejeitar reforçar o capital de  instituições financeiras multilaterais como FMI e o Banco Mundial,  cujas políticas tendem a submeter países frágeis a práticas que atendem,  principalmente, aos interesses do capital internacional.
Ser de  esquerda é entender que os principais adversários das transformações  estruturais e de modelo estão dentro do próprio país.
Ser de  esquerda é reconhecer que há um enorme hiato entre o poder potencial e o  poder efetivo do Brasil na arena internacional.
Ser de esquerda é  saber que, com as escolhas certas e as transformações estruturais, o  país só terá peso efetivamente relevante no cenário internacional quando  reduzir sua enorme vulnerabilidade externa estrutural e suas  extraordinárias fragilidades internas, inclusive, as sociais e  institucionais".
Declaração do economista Reinaldo Gonçalves,  professor titular de Economia Internacional da Universidade Federal do  Rio de Janeiro, em entrevista concedida ao portal IHU/Unisinos,  hoje.
Fonte: www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32723