Crise: O Brasil na Bancarrota Internacional
Crise Capitalista no Brasil
A passos largos em direção ao colapso
O Brasil detém mais de US$ 400 bilhões em empréstimos dos bancos europeus em bancarrota. Exportações e crescimento da economia em queda livre
14 de dezembro de 2011
De acordo com dados do BIS (Banco de Compensações Internacionais), o Brasil está no centro da contaminação da crise capitalista que atingiu em cheio aos países imperialistas. Devido ao crescente aumento das dificuldades para captar recursos para fazer frente ao pagamento dos serviços da dívida pública, que têm na sua origem o direcionamento dos recursos do crédito internacional para cobrir os rombos das contas públicas dos países imperialistas em crise, o governo brasileiro tem tomado empréstimos dos bancos imperialistas em bancarrota por US$ 586 bilhões. Os empréstimos obtidos dos bancos europeus alcançam US$ 416 bilhões, que representam 30% dos recursos de curto prazo o que, devido à sua alta volatilidade, podem abandonar o País rapidamente. US$ 210 bilhões foram tomados de bancos espanhóis, que encontram-se em bancarrota devido ao alto volume de títulos hipotecários podres acumulados (€ 167 bilhões segundo o Banco da Espanha). O Brasil tem maior exposição ao risco da bancarrota dos bancos europeus que os demais países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e, inclusive, maior que a Irlanda, Grécia, Polônia, Portugal ou Suíça.
Segundo o BIS, a crise capitalista tem "implicações macroeconômicas dentro e fora da Europa" e atingiu em cheio os países atrasados chamados "emergentes", e, em primeiro lugar, o Brasil. "Investidores retiraram mais de US$ 25 bilhões de fundos dos mercados emergentes em agosto e setembro, principalmente de fundos de ações". Os especuladores financeiros têm migrado para títulos dos tesouros mais seguros das potências imperialistas centrais com o objetivo de cobrir os rombos nas suas matrizes e para aproveitar a alta lucratividade das taxas de juros em crescente aumento das potências imperialistas de segunda ordem, como a Itália e a Espanha, e mesmo de primeira ordem, como a França. A migração de recursos dos países do BRIC foi de US$ 25 bilhões em apenas agosto e setembro; no período, a Europa recebeu US$ 85 bilhões, e essa tendência tem se acentuado enormemente a partir de outubro e, principalmente, a partir de dezembro. Este movimento explica as fortes perdas que têm atingido a Bovespa, inclusive maiores que as perdas das bolsas dos países imperialistas.
Os bancos brasileiros têm reduzido os seus empréstimos, e as emissões de títulos públicos realizadas pelo governo têm despencado a partir do terceiro trimestre deste ano que apenas alcançaram US$ 2 bilhões, contra mais de US$ 13 bilhões no segundo trimestre e US$ 26,7 bilhões no mesmo período de 2010.
O presidente do BC (Banco Central), Nelson Tombini, declarou, contra o relatório do BIS, que a exposição ao risco dos bancos europeus sobre o sistema financeiro brasileiro seria baixa, devido a que esses empréstimos teriam sido tomados das filiais brasileiras dos bancos europeus, as quais, supostamente, seriam sólidas devido "à capitalização das instituições segundo as normas definidas no acordo de Basileia" e a que "cerca de 80% das operações de crédito de bancos de origem estrangeira são realizadas com recursos captados no próprio mercado brasileiro" (depósitos dos clientes ou captações junto ao mercado de capitais) e à existência de R$ 450 bilhões no BC (Banco Central) de depósitos compulsórios dos bancos.
A economia brasileira em queda livre
Na realidade, a situação é extremamente crítica para o governo do PT. Devido à sua política pró-imperialista de priorizar, a qualquer custo, o chamado superávit primário, que são os recursos arrecadados para manter o pagamento da odiosa dívida pública brasileira, neste ano, em torno de 50% dos recursos do orçamento público serão destinados a este fim. O balanço de contas correntes será fechado com US$ 55 bilhões de capitais imperialistas especulativos, mas esse valor não foi muito maior, pois houve um alto superávit comercial (US$ 25,563 bilhões no acumulado do ano) devido ao alto volume das exportações no primeiro semestre deste ano. Mas as exportações brasileiras entraram em queda livre, a partir do mês de setembro, com o aprofundamento da crise capitalista mundial que provocou a diminuição da demanda nos países imperialistas e na China. A economia brasileira tem ficado muito exposta, pois o governo tem direcionado a economia do País para a produção e exportação de matérias primas básicas (minerais, principalmente minério de ferro bruto, soja, gado, suco de laranja, café), que são negociadas dezenas de vezes antes de chegar ao consumidor final nos mercados futuros especulativos e que representam em torno de 50% das exportações do Brasil. Essa tendência tem se acentuado no mês de dezembro com um déficit comercial acumulado de US$ 411 milhões de acordo com dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
Os altos lucros obtidos pelo bancos europeus, devido às altas taxas de juros impostas pelo capital financeiro imperialista ao governo brasileiro, às altas tarifas bancárias e ao crédito em cima de recursos públicos, estão sendo direcionados para as matrizes na Europa. A suposta solidez dos empréstimos captados no mercado nacional é uma "solidez" de barro num cenário de aprofundamento da recessão. Segundo informe a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), já no mês de outubro, a economia brasileira teve a segunda maior desaceleração entre os 34 países do grupo, somente não tendo sido pior que a da Índia. A previsão de crescimento para 2011 foi rebaixada de 3,5% para 2,8% pela agência de classificação de riscos Fitch e para 2,97% pelo relatório Focus do BC, contra 3,09% prevista na semana anterior.
Apesar do estancamento da economia brasileira, a inflação deverá fechar acima de 6,5%, que era o teto da meta estabelecida pelo governo para este ano. Os principais indicadores utilizados para medir a inflação (IPCA, IGP-M, IGP-DI, INCC) mostram uma inflação entre 6,95% e 7,64% no acumulado dos últimos 12 meses. A resposta do governo tem sido aumentar a manipulação das estatísticas apesar delas já serem muito manipuladas e a diminuição dos impostos para 298 produtos importados de bens de capital e de telecomunicações e informática de 14% para 2%. Desta vez, por uma passe de mágica, a incontrolável inflação dos serviços foi rebaixada de 10%-11% para 8,9% simplesmente diminuindo o seu peso em relação aos demais componentes do IPCA. O peso dos alimentos, principalmente os de maior consumo popular, não reflete a disparada provocada pela especulação financeira nos mercados de commodities e o aumento da dependência das importações devido ao direcionamento da agricultura para o plantio de soja, cana de açúcar, assim como a criação de gado, destinados à exportação. Da mesma maneira, os absurdos preços das tarifas públicas e de setores privados que funcionam em cima de recursos públicos, como a saúde e educação, também não são refletidos nos índices.
A impotência do governo do PT para conter o avanço da crise no Brasil
A primeira medida do governo do PT para "manter a blindagem" da economia brasileira foi "mais do mesmo": diminuir os impostos para continuar garantindo altas taxas de lucros para os especuladores capitalistas e aumentar o crédito com o objetivo de aumentar o consumo, o que, devido ao crescimento do risco da inadimplência, deverá levar ao estouro da bolha do crédito. Recentemente, o BC anunciou o aperto à fiscalização dos trabalhadores para aumentar a arrecadação mediante a auditoria de todas as transações financeiras a partir de R$ 1 mil, o que aumentará o controle de 88% das operações financeiras para 96%.
O governo e a imprensa direitista, e até mesmo vários grupos de esquerda, têm propagandeado dois grandes triunfos que o governo brasileiro teria em mãos, que, até as últimas semanas, supostamente, teriam blindado a economia: reservas soberanas de US$ 350 bilhões e depósitos no BC provenientes do compulsório dos bancos por R$ 450 bilhões.
Esses recursos, apesar de consideráveis, não serão suficientes para evitar a bancarrota do Brasil. As reservas internacionais estão aplicadas em títulos do Tesouro do governo dos EUA, dos quais o governo brasileiro é o seu quarto maior detentor, com US$ 270 bilhões, aplicados a taxas próximas a 0%, e os recursos restantes estão aplicados em bancos imperialistas. A repatriação desses recursos dificilmente será permitida pelo imperialismo, pois ele mesmo enfrenta endêmica falta de recursos e a sua repatriação poderia disparar as taxas de juros. A única movimentação que o imperialismo poderia permitir seria simplesmente formal, destinada ao pagamento dos serviços da dívida pública e nunca ao crescimento da economia nacional. Como o estão demonstrando a implementação das políticas imperialistas na Europa, a sua essência é recessiva e tem como objetivo fundamental a manutenção dos repasses de recursos públicos para os especuladores financeiros imperialistas a qualquer preço. Os próprios mecanismos da especulação a nível mundial estão estruturados dessa maneira. Os derivativos financeiros, que são cestas de títulos financeiros com diversas procedências e graus de garantias, muito distanciados das atividades produtivas (hoje circulam no mundo em torno de US$ 1200 trilhões contra um PIB mundial de US$ 70 trilhões), são garantidos por mecanismos de seguros hedge, cuja prática mais usada são os CDS (credit default swaps), emitidos em grandes volumes pelos bancos imperialistas, que são negociados no mercado financeiro e usado inclusive em apostas pela quebra de determinadas empresas ou governos. No caso de quebra de pagamentos das dívidas, são disparados mecanismos de pagamentos dos CDS. Esse mecanismo levou à bancarrota do sistema financeiro mundial em 2008 após a quebra da maior multinacional de seguros do mundo, a AIG.
Neste ano, em torno de 50% do orçamento público brasileiro será destinado ao pagamento dos serviços da dívida pública. Esse percentual tem aumentado de maneira crescente desde o colapso de 2007-2008. O balanço de contas correntes do governo fechará em US$ 55 bilhões negativos, que só não será superior, pois haverá um superávit da balança comercial acima de US$ 25 bilhões. Esse déficit será fechado com capitais especulativos. Os recursos envolvidos para socorrer as grandes empresas em bancarrota deverão crescer exponencialmente. As altas taxas de lucro dos bancos deverão ser garantidas com repasses do governo, provavelmente através da manutenção da política de incentivo artificial do crédito.
Além das dificuldades do governo para se capitalizar, existem as dificuldades das próprias empresas que também não conseguem financiamentos. Os juros exigidos para os empréstimos que têm sido disponibilizados têm aumento consideravelmente e a tendência é exponencial.
A arrecadação consome quase 40% do PIB o que é um enorme entrave para qualquer tipo de crescimento, mas deverá cair devido à contração do PIB o que impactará em cheio o orçamento público. O desemprego aumentará e com ele aumentaram os gastos com eventuais programas sociais e a inadimplência, e o consumo diminuirá.
As importações continuarão aumentando devido ao sucateamento da indústria em detrimento da produção depredadora e exportação e commodities através dos mercados futuros especulativos.
O impacto negativo desses fatores se potencializará devido ao aumento das pressões do imperialismo para aumentar os repasses com o objetivo de cobrir os rombos dos países imperialistas e continuar garantindo as altas taxas de lucro dos especuladores financeiros. Para atingir este objetivo, o governo brasileiro será obrigado a aumentar o repasse do peso da crise para as massas trabalhadoras através dos planos de austeridade com novos e mais brutais cortes nos programas sociais, o aprofundamento da entrega das empresas públicas e dos recursos naturais do País, e a monetização da dívida pública através da emissão descontrolada de papel moeda.
A manutenção dos programas sociais que têm sido um instrumento importante de controle dos setores populares mais pobres, como o Bolsa Família, ficarão comprometidos.
O aumento da crise capitalista no Brasil continuará impactando a economia dos países da região e, em primeiro lugar, a Argentina, que tem um alto grau de dependência das exportações para o Brasil.
A aumento dos ataques contra as massas trabalhadoras eliminará a base de apoio do PT
O cenário próximo mais provável é de estagnação, isto é de hiperinflação com recessão, que fará evaporar os depósitos compulsórios do BC, pois o governo será obrigado a monetizar a dívida pública para manter os seus compromissos com o imperialismo e a aumentar o repasse da crise para os trabalhadores. Será impossível manter o consumo aquecido, altas taxas de lucro para os especuladores financeiros e outros setores menores da burguesia, conter as bolhas imobiliária e do consumo, que estão em alto grau de desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, resgatar um número considerável de grandes empresas que, inevitavelmente, entrarão em bancarrota.
A implementação dos planos de austeridade exigidos pelo imperialismo e a continuidade dos repasses para os especuladores imperialistas levarão ao choque do PT com as massas trabalhadoras o que abrirá uma profunda crise no regime político burguês. Essas políticas requerem uma virada muito à direita do governo do PT ou que elas sejam aplicadas por setores da direita que sejam representantes diretos do imperialismo, como o PSDB e o DEM, da mesma maneira que tem acontecido na Europa. Mas a direita vive uma enorme crise há vários anos. O DEM está quase se desintegrando. O PSDB enfrenta grande declínio eleitoral e rachas internos. O recentemente formado PSD, sob a liderança do prefeito de São Paulo, Kassab, e integrado por elementos abertamente direitistas, como a conhecida senadora dos latifundiários Kátia Abréu, busca formar parte da base do PT, mas enfrenta a forte queda da popularidade de Kassab e a própria eminente desagregação do PT.
O governo do PT será obrigado a acelerar a sua "direitização" ao mesmo tempo que, com o aprofundamento da crise capitalista, contará com menores recursos para manter a cooptação e corrupção da burocracia sindical e dos dirigentes dos movimentos populares que, por sua vez, deverão enfrentar o ascenso desses movimentos.
O reforço do controle do imperialismo para garantir a implementação das suas políticas seria reforçada pelos vários mecanismos de controle e pela pressão dos setores políticos abertamente pró-imperialistas no Brasil, o que levaria à capitulação do PT, da mesma maneira que tem acontecido em várias outras ocasiões em relação a diversas questões do interesse da direita.
Conforme a crise capitalista continuar se aprofundando, a verdadeira face do capitalismo brasileiro, atrasado e dependente do imperialismo, ficará evidente; os capitais financeiros especulativos aumentarão a espoliação do País que cada vez mais se assemelhará a um verdadeiro cadáver.
Fonte: https://www.advivo.com.br/blog/antonio-ateu/crise-o-brasil-na-bancarrota-internacional#more