Crise: A Derrocada do Capitalismo USA
A crise capitalista nos EUA: A dívida pública fora de controle
No governo Obama o endividamento estatal norte-americano cresceu US$ 4,2 trilhões, e até 2013 será de US$ 16,8 trilhões. Considerando a dívida interna são mais de US$ 70 trilhões. Os especuladores financeiros receberam US$ 25 trilhões desde 2007
19 de outubro de 2011
Segundo dados do Tesouro norte-americano, até 3 de outubro, o total da dívida pública atingiu US$ 14,837 trilhões, o que significou um aumento de US$ 44,8 bilhões somente no início do mês. Desde a posse da administração de Barack Obama, em 20 de janeiro de 2009, a dívida pública aumentou em US$ 4,212 trilhões, a razão de US$ 4,27 bilhões por dia. Caso esse mesmo ritmo de endividamento for mantido, no término da administração Obama, a dívida chegará a US$ 16,865 trilhões. O aumento, no período de quatro anos, será o equivalente ao endividamento total do País desde a presidência de George Washington, em 1732, até 2002.
O acordo com o Congresso que permitiu o aumento da dívida pública para US$ 16,4 trilhões em agosto, US$ 2 trilhões acima do PIB, teve como contrapartida o corte de US$ 1 trilhão em programas sociais (saúde, educação e alimentação), mas foram mantidos os gastos militares e de segurança conforme as exigências dos setores mais direitistas liderados pelo Tea Party, apesar da demagogia que foi feita em relação ao futuro estudo de viabilidade para verificar a possibilidade de cortar US$ 300 bilhões do orçamento do Pentâgono até 2020.
Considerando as dívidas dos consumidores, a dívida total passa para US$ 26,3 trilhões, e ainda considerando as dívidas dos estados e municípios e as dívidas das empresas, o valor total ultrapassa os US$ 60 trilhões, ou 400% do PIB dos EUA. Dos US$ 44 trilhões da dívida interna, US$ 9,1 trilhões são dívidas com bancos imperialistas, US$ 6,3 trilhões com agências governamentais de crédito (relacionadas basicamente com hipotecas), US$ 3,2 trilhões com agências de seguros e fundos mutualistas, US$ 2,5 trilhões com as autoridades monetárias, US$ 2,3 trilhões com empresas financeiras detentoras de bônus respaldadas por ativos financeiros, US$ 10,9 trilhões com diversas outras empresas e fundos financeiros, e US$ 6,6 trilhões com os chamados organismos não financeiros.
O domínio absoluto do capital financeiro especulativo está na origem do aumento descontrolado da dívida
De acordo com os resultados da primeira auditoria da FED (Reserva Federal) desde 1913, feita pelo GAO (Government Accountability Office), organismo vinculado ao Congresso, que considerou o período de dezembro de 2007 até o 21 de julho de 2010, a FED realizou repasses por US$ 16 trilhões, muitos deles secretos, para as multinacionais imperialistas, principalmente do setor financeiro, encabeçadas pelos bancos Citibank, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Bank of America e o Goldman Sachs. US$ 659 bilhões foram repassados para a “administração” dos recursos.
A FED é um organismo privado controlado pelos grandes especuladores imperialistas que participam diretamente dos doze bancos da Reserva Federal dos EUA, dos quais o Banco Federal da Reserva de Nova Iorque é o mais importante. O seu presidente e os seus sete membros são designados pelo Presidente dos EUA e confirmados pelo Senado. Por ser um organismo privado, não presta contas e não precisa submeter-se à Lei de Liberdade de Informação.
As medidas que o governo tem adotado para “superar” a crise não ultrapassam os limites do velho monetarismo neoliberal: planos de resgate, TARPs (Troubled Asset Relief Program, programa destinado à compra de títulos podres e ações dos bancos imperialistas), TALFs (Term Asset-Backed Securities Loan Facility, empréstimos garantidos principalmente por títulos podres), ZIRPs (Zero Interest Rate Policy, empréstimos a taxas de 0%), QEI (Quantitative Easing I, compra de títulos podres através da emissão de papel moeda), QEII e o resgate “twist” anunciado em setembro que consiste no fornecimento de dólares em papel moeda aos bancos europeus, que perderam o acesso aos mercados de capitais de dólar, com o objetivo de permitir a rolagem de títulos podres com vencimentos no curto prazo. Essas operações atingem quase US$ 25 trilhões e não conseguiram arrancar mais que alguns suspiros do capitalismo que está quase em estado de coma.
Na reunião do G20, prevista para acontecer nos dias 3 e 4 de novembro, será discutida a adoção da FTT (Taxa global para as Transações Financeiras) que segundo estimativas deverá gerar US$ 50 e US$ 250 bilhões anuais dependendo das transações taxadas, longe de ser suficiente para enfrentar o tamanho do rombo, mas que já enfrenta a oposição dos principais bancos imperialistas.
O plano do presidente Obama, rejeitado pelo Congresso, para a geração de empregos considerava o corte de US$ 447 bilhões em impostos com o objetivo de gerar 1,9 milhões de empregos, a um custo de US$ 235.263 para cada emprego gerado, mas sem envolver qualquer incentivo concreto para o desenvolvimento do setor produtivo, começando pelos investimentos em infraestrutura. O número oficial de desempregados nos EUA é de 14 milhões, mas avaliando de perto as manipulações estatísticas, verificamos que o número real é de 34 milhões.
O setor manufatureiro foi praticamente todo migrado para os países onde o custo da mão de obra é quase de graça, principalmente, a China. Hoje, a principal exportação dos EUA é o dólar em papel moeda, cuja demanda é mantida alta de maneira artificial, e permite custear os altíssimos gastos militares e o consumo de produtos baratos importados. Considerando as verbas secretas, os gastos relacionados a questões militares e de segurança podem ultrapassar os U$ 2 trilhões em 2012. O chamado complexo militar industrial dos EUA é responsável por mais de 50% da economia do país. A maioria das vagas de trabalho, abertas nos últimos três anos nos EUA, foram no setor militar. O exército dos EUA possui mais de 1,5 milhões de soldados, além de milhões de contratistas (mercenários terceirizados). O domínio do dólar a nível mundial tem como um dos pilares fundamentais, além do domínio militar, os chamados “petrodólares”, que são os dólares norte-americanos recebidos pelos produtores de petróleo em troca da sua produção. Como a grande maioria das transações relacionadas aos 86 milhões de barris de petróleo, que são comercializados diariamente, são feitas em dólares, os países recorrem para obtê-los aos mercados de câmbio internacionais ou à exportação dos seus produtos aos EUA em troca de dólares. Desta maneira, os EUA recebem um duplo empréstimo por cada transação de petróleo: aumentam a demanda mundial por dólares e títulos do Tesouro dos EUA, e podem imprimir dólares para comprar petróleo, fazendo com que os países exportadores em geral e os produtores de petróleo fiquem com o ônus da dívida após terem recebido os dólares em papel moeda (uma espécie de dinheiro fantasma, sem lastro produtivo). Em maio de 2011, a China tinha aplicado em títulos do Tesouro norte-americanos U$ 1,159 trilhões (hoje são U$ 1,7 trilhões), o Japão U$ 912,2 bilhões, a Grã Bretanha U$ 346,5 bilhões, e o Brasil U$ 211,4 bilhões. O Brasil foi o segundo maior comprador desses títulos entre maio de 2010 e maio de 2011, quando foi atingido o teto da dívida do USA. Cabe destacar, que esses títulos pagam juros próximos a 0% ao ano, enquanto o governo brasileiro paga taxas acima de 12% (taxa Selic ou taxas superiores) pelos seus próprios títulos públicos.
As multinacionais imperialistas perderam os ganhos obtidos pelos programas trilhonários de repasse de recursos públicos. A economia dos EUA, assim como a economia capitalista mundial, entrou em acelerado declínio a partir do mês de julho deste ano e encaminha-se a passos largos para a recessão.
Fonte: https://www.advivo.com.br/blog/antonio-ateu/crise-a-derrocada-do-capitalismo-usa#more