CHEGAMOS AOS LIMITES DA EXPANSÃO PRECARIZADA DA UFAL!

22/03/2011 18:43

CHEGAMOS AOS LIMITES DA EXPANSÃO PRECARIZADA DA UFAL!

 

A Ufal espelha organicamente os mesmos traços/características da sociedade em que está inserida. Como já vem sendo constatado por alguns estudiosos, até aí nada de mais: a esfera da educação está subsumida dialeticamente a lógica de reprodução da sociedade capitalista. Deste modo – em que pese estar vazada de posturas alternativas e de ter inserido em sua comunidade acadêmica (professores, técnicos/funcionários e alunos) diversos segmentos de outros grupos e classes sociais subalternizados – ela espelha particularmente o projeto e a concepção de sociedade das classes dominantes em Alagoas (um amalgamado que inclui pouquíssimos usineiros, latifundiários, outros poucos industriais e médio-burgueses/profissionais liberais). Espelha tal projeto não apenas pela forte presença destes setores no interior da universidade, mas também pela proximidade entre os grupos políticos dirigentes da sociedade brasileira/alagoana e da gestão da Ufal nestes últimos anos. De outro lado, ela é fruto – assim como boa parte da dinâmica econômica estadual – de políticas federais que impactam de maneira ambígua no âmbito local. Aqui, não preciso destacar o peso da federalização nas políticas públicas e na “distribuição” de renda no estado, já indicado por outros analistas. Pretendo simplesmente apontar que o rumo do Governo Dilma parece ser um pouco distinto do anterior. Esta análise ajuda a entender o que está acontecendo na grave crise que é sinalizada no âmbito dos campi da Ufal (Maceió, Arapiraca e Sertão) e põe em avaliação o esforço e empenho levado adiante pela gestão que está prestes a se encerrar.

No campus Maceió vimos a violência (local de desova de dois corpos, assalto a professora/alunos) virar tema de noticiário local e, entre as poucas respostas, um paliativo de discussões com o governo municipal, estadual e polícia federal, e um apelo tímido da Adufal (segue em anexo). Todas estas, atitudes que teimam em desconhecer que este é um problema estrutural, e que sinalizam em garantir a segurança da Ufal em seu entorno e no interior do campus. Ou seja: em aumentar o fosso que separa a Ufal da cidade e da sociedade, que possui índices alarmantes, mesmo se comparados com as grandes metrópoles. Esta atitude é típica da burguesia e da classe média maceioense, que vem ostensivamente isolando-se em condomínios fechados, muros altos e gradeados [até ruas estão sendo fechadas/privatizadas!!]. Que caia o mundo lá fora!

No campus Arapiraca, a mercê de uma série de problemas, vimos a atitude corajosa da comunidade do pólo Viçosa gritar que a falta de estrutura, o descaso na resolução de problemas, estava pondo em cheque muito mais do que apenas a formação dos futuros veterinários. Após um desgaste interno das forças promotoras da “ocupação” da reitoria, de uma difusa pressão em torno dos professores em estágio probatório, o movimento praticamente espontâneo retorna com a missão cumprida da denúncia, porém sem ganhos concretos sinalizados (veja-se, no youtube, o vídeo sobre os acontecimentos, em saborosa comparação com o MST).

Por fim, mas não com menor impacto, eis que agora o Sertão mostra o ar de sua graça e ao que veio. Sem tocar em sérios problemas de autoritarismo e de práticas clientelísticas que imperam internamente – e reproduzem o ambiente de difícil modernização conservadora historicamente encontrado no sertão brasileiro – a comunidade do Campus Sertão insurge-se ora contra as péssimas condições de trabalho e de desenvolvimento das atividades de ensino e extensão, ora contra a ausência de condições de pesquisa (segue material em anexo).

Um ato simbólico que unifica estas três pontas de um mesmo iceberg foi ver, em frente a reitoria, o out-door alusivo a um ano de criação do Campus Sertão salpicado de lama por descontentes do Campus Maceió. O slogan, “um mar de conhecimentos”, se não cuidarmos, pode transmudar em uma barragem para drenar a forma como o saber deve chegar até lá. É uma mesma Ufal da qual falo? Num estado como o nosso, as coisas poderiam (ou podem) se dar de modo diverso do que se vem efetivando? Chegamos ao limite da expansão precarizada da Ufal? Sim! É a minha resposta para estas três perguntas.

 

Não espero que tod@s concordem com esta breve opinião, produzida no calor da hora e em apoio à Mobilização Permanente da Comunidade Acadêmica do Campus do Sertão, que neste exato momento está balançando o coreto no centro de Delmiro Gouveia (manhã de segunda-feira, 21 de março de 2011). De todo modo, vai ser difícil alguém negar que há alguma coisa de podre no reino da Dinamarca. A esquerda, os progressistas, a direita e os oportunistas já o perceberam. Falta apenas alguém avisar para o restante da comunidade e da sociedade que o rei está nu, e que é preciso um outro projeto de universidade para os duros anos que se iniciam!

 

Osvaldo Maciel (História/ICHCA, Campus Maceió)