Brasil: A acelerada queda do nível de vida dos trabalhadores brasileiros
A acelerada queda do nível de vida dos trabalhadores brasileiros
Do site do PCO
Mais de 115 milhões de brasileiros vive com menos de um salário mínimo de renda mensal per capita. Cai o número de horas pagas e o valor da folha de pagamentos na indústria
27 de fevereiro de 2012
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em relação à situação dos trabalhadores empregados nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil em janeiro deste ano, o rendimento médio real dos trabalhadores teria aumentado em 0,7% em janeiro na comparação com o mês anterior, e 2,7% na comparação com janeiro de 2011. A massa salarial dos trabalhadores ocupados teria sido de R$ 37,9 bilhões em janeiro, representando um recuo de 0,5% em relação ao mês de dezembro, mas um crescimento de 3,6% na comparação com o mesmo mês de 2011. O salário médio dos trabalhadores ocupados teria ficado em R$ 1.672,20 em janeiro, o valor mais alto para o mês desde março de 2002, com alta de 0,7% na comparação com dezembro e de 2,7% frente a janeiro de 2011.
A maneira como essas informações são apresentadas tenta divulgar a ideia que as quedas e subidas do emprego são sazonais e que, no geral, a situação dos trabalhadores tem melhorado. Se avaliarmos os dados do censo realizado pelo IBGE em 2010, verificaremos que mais de 115 milhões de brasileiros, quase 60% da população brasileira (32,2 milhões de um total de 54 milhões dos domicílios ocupados), vive com menos de um salário mínimo de renda mensal per capita. Em torno de 50 milhões de pessoas (15,8 milhões de domicílios) vivem com até meio-salário mínimo de renda mensal. 16,2 milhões de pessoas vivem com menos de R$ 70 por mês e quase cinco milhões de pessoas não têm renda alguma. O total de domicílios classificados como sem rendimento foi de 2,4 milhões. 132 mil famílias são chefiadas por crianças de 10 a 14 anos.
As disparidades entre as regiões e os estados brasileiros são gritantes: no nordeste 51% da população vive com até meio salário mínimo, ao contrário da região sudeste que é de apenas 18%. As mulheres são em média mais pobres que os homens. O grupo que ganha de um a dois salários mínimos representa 22,5% da população. Outros 15,8% de pessoas ganham a partir de dois salários mínimos. Apenas 1% da população ganha acima de 20 salários e 2% ganha entre 10 e 20 salários.
Cai o número de horas pagas e o valor da folha de pagamentos na indústria
O número de horas pagas aos trabalhadores da indústria, nas seis maiores regiões metropolitanas, caiu 0,4% no mês de dezembro do ano passado, e 1,5% na comparação com dezembro de 2010, 0,2% em novembro, 0,9% em outubro e 0,8% em setembro.
Comparando o quarto trimestre com o trimestre anterior, a queda foi de 1,4%, com quedas consecutivas no ano de 2011, quando acumulou 2%.
O índice acumulado em 2011 registrou acréscimo de 0,5%, contra 4,1% em 2010. No estado de São Paulo, houve queda de -5,1%: nos setores de produtos de metal (-10,6%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-7,7%), metalurgia básica (-15,7%), alimentos e bebidas (-3,8%), borracha e plástico (-6,4%), calçados e couro (-19,4%) e produtos químicos (-6,7%).
O leve aumento do emprego industrial e do número de horas pagas, em dezembro de 2011, após três meses seguidos de taxas negativas frente ao mês imediatamente anterior, refletiram o efeito, bastante ligeiro, do plano do governo lançado no mês de novembro, mas prosseguiu apontando taxas negativas, intensificando os resultados negativos verificados no segundo e terceiro trimestres de 2011 e refletindo a redução na produção industrial ao longo de 2011. O índice acumulado no ano fechou com resultados positivos em 2011 (1,0% no total do pessoal ocupado e 0,5% no número de horas pagas), mas esses dois índices ficaram abaixo dos registrados em 2010 (3,4% e 4,1%, respectivamente).
O valor da folha de pagamento real cresceu 4,2% em 2011, mas em dezembro de 2011, o valor da folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria recuou 2,1% após ter aumentado 0,7% em novembro e mantido tendência ascendente entre dezembro de 2010 e setembro de 2011. A queda do quarto trimestre de 2011 foi de 2,9%, após ter acumulado aumento de 5,5% nos três trimestres anteriores.
A crescente piora da qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros
O Censo 2010 do IBGE revelou que a proporção de trabalhadores brasileiros que ganham até um salário mínimoaumentou de 49% no ano 2000 para 63% em 2010, o que reflete o fato de que a maior parte dos postos de trabalho criados nos governos FHC e do PT são na sua enorme maioria de baixa remuneração.
O aumento da exploração devastadora dos trabalhadorese dos recursos naturais no País por parte das multinacionais imperialistas tem sido provocado pelo aprofundamento da crise capitalista mundial.O Brasil real, a diferença do Brasil do “mundo de Alice” do IBGE, está a anos luz do “pleno emprego” propagandeado pelo governo do PT. Mais de 11 milhões de brasileiros vivem em favelas, apelidadas pelo IBGE de "aglomerados subnormais", que, além da falta de serviços básicos têm enfrentado a brutalidade das forças de repressão do estado no último período.
As estatísticas oficiais tentam mostrar uma certa melhoria no consumo dos trabalhadores, mas essa “melhoria” depende, em grande medida, da mudança do peso dos componentes da inflação, conforme a conveniência do governo, da piora dos produtos alimentícios ofertados, onde proliferam os transgênicos, sem serem catalogados como tais, e o maior uso de agrotóxicos no mundo, da queda da qualidade dos produtos importados, em vários segmentos do consumo popular, e da tentativa de minimizar o impacto das importações no crescente déficit da balança comercial, entre outros.
O câmbio do real está supervalorizado o que gera um forte impacto inflacionário devido à desaceleração industrial provocada pelo direcionamento da economia para a produção e exportação especulativa de matérias primas através dos mercados futuros de commodities. Em média, a taxa de câmbio do real frente ao dólar foi, em 2010, de R$ 1,70, enquanto os próprios bancos estimam que deveria ser de R$ 2,50. Neste caso, este único fator melhoraria a posição competitiva dos bens industriais produzidos no País e, ao mesmo tempo, faria com que o chamado PIB (Produto Interno Bruto) caísse da sexta posição mundial para além da décima. Mas a supervalorização do real é pressionada pela própria política do governo direcionada à captação de capitais especulativos, para cobrirem o crescente déficit nas contas correntes, que, por sua vez, pressionam pela melhora das condições para a repatriação dos capitais.
A participação das matérias primas nas exportações brasileiras encontram-se em torno de 70% se considerarmos componentes semimanufaturados como o óleo de soja. A nefasta Lei Kandir/Collor continua vigente e isenta do pagamento de ICMS a exportação de matérias primas.
As políticas do governo, fortemente enquadradas nas imposições do sistema imperialista mundial, estão direcionadas no sentido contrário à criação de empregos e à melhora de vida dos trabalhadores. Elas conduzem à destruição do parque industrial, que é o grande gerador de empregos, e à exploração devastadora de commodities, como a produção de soja, gado e mineração, que, além de destruírem o meio ambiente, produzem pouquíssimos empregos. As tentativas de manter um certo crescimento econômico baseado no consumo, mediante o crédito bancário através de recursos públicos, está direcionado à manutenção do pagamento dos serviços da dívida pública e vá de mãos dados com o crescente aumento dos impostos e do endividamento público, assim como dos planos cortede gastos públicos e de austeridade que focam os programas sociais e os investimentos produtivos.
Fonte: https://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=35139