O perigo da ultradireita, por Andrés Tzeiman

O PERIGO DA ULTRADIREITA, POR ANDRÉS TZEIMAN

Vamos voltar um pouco no tempo e lembrar o cenário imediatamente após as eleições legislativas de 2021. O Juntos por el Cambio (JxC) venceu por uma ampla margem em nível nacional, ultrapassando a barreira de 40% dos votos. Além disso, conseguiu deixar o peronismo em segundo lugar na sempre importante província de Buenos Aires. A coalizão de oposição ficou tão entusiasmada com essa vitória que Horacio Rodríguez Larreta e Patricia Bullrich começaram a experimentar a faixa presidencial.

Ao mesmo tempo, uma nova força política estava surgindo nas eleições de 2021. Um líder histriônico, economista de profissão, inspirado pelas ideias da Escola Austríaca de Economia de Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, e seguidor de Alberto Benegas Lynch (chefe da filial argentina da Sociedade Mont Pelerin), surpreendeu a todos ao obter 17% dos votos na Cidade Autônoma de Buenos Aires. Estamos falando, é claro, de Javier Milei. E como se isso não bastasse, na província de Buenos Aires, sua marca política obteve 7,5% dos votos.

Assim, há dois anos, havia sinais claros de insatisfação com o governo, que havia perdido uma grande parte dos votos que havia conquistado na eleição de 2019. Mas, ao mesmo tempo, uma nova força estava surgindo, mostrando uma forte rejeição às lideranças políticas como um todo. O desgaste da pandemia (queda da atividade econômica, perda de emprego, medidas de isolamento, entre outras) teve impacto nas questões eleitorais e começou a instalar no clima social um significante muito caro à história argentina: a crise. Os danos econômicos causados pela "dupla pandemia" (primeiro o macrismo, depois o coronavírus) mostraram uma sociedade cansada, com sinais de exaustão diante de uma realidade e de um futuro que não ofereciam sinais promissores.

Além disso, a fragmentação dentro do partido governista (oficialismo, no original), reforçada pelo acordo com o FMI, juntamente com o crescimento sustentado e significativo da inflação em 2022 e 2023, gerou um clima de insatisfação social que estava se espalhando como uma mancha de óleo. O sentimento de que "tudo está errado" e que, portanto, era necessária uma mudança radical no sistema político, estava começando a ganhar cada vez mais apoio em alguns setores sociais.

Desafios e obstáculos

Foi nesse cenário que chegamos às eleições primárias de 13 de agosto. O JxC continuou a acreditar que a fórmula de polarização com o peronismo era suficiente. Já a Unión por la Patria (UxP) optou por subestimar o malestar social causado pela crise econômica. Dessa forma, o novo fenômeno que começou a se insinuar na Área Metropolitana de Buenos Aires em 2021 finalmente se tornou uma realidade nacional. A candidatura presidencial de Javier Milei ficou em primeiro lugar no PASO [Primárias Argentinas], obtendo 30% dos votos e vencendo em 16 dos 24 distritos do país.

Diante de tal choque político, o UxP tem a tarefa urgente de reverter o resultado. O principal entrave do governo, o acordo com o FMI, apresentou um primeiro obstáculo: a desvalorização de 22% no dia seguinte à eleição. Entretanto, o ministro-candidato Sergio Massa ainda tem muito a fazer. Na verdade, as medidas econômicas adotadas recentemente em resposta à desvalorização da taxa de câmbio estão indo na direção certa: reconectar-se com um setor da sociedade afetado pela inflação e pela perda do poder de compra (trabalhadores formais com baixa renda, trabalhadores informais e precários, aposentados, entre os mais importantes).

Nesse sentido, além da inviabilidade de algumas das propostas de Javier Milei (que, a propósito, o próprio candidato já começou a qualificar), a centralidade de sua estratégia tem sido a empatia com a crescente inquietação social e, dessa forma, oferecer uma maneira de canalizá-la. Portanto, reverter os resultados do PASO obriga a UxP a tomar medidas de dentro do governo que demonstrem sua compreensão da situação delicada pela qual a população está passando, bem como de que há um futuro possível no qual essas dores podem ser mitigadas. A tarefa, é claro, não é fácil, mas é possível. Além disso, ela se tornou uma demanda, tão urgente quanto necessária. O preço que pode ser pago por não fazer isso com toda a força de que se dispõe é muito alto. Pois se no passado era um ponto de interrogação, agora não há mais dúvidas: o perigo da ultradireita está à espreita.

Publicado originalmente em: https://accion.coop/opinion/el-peligro-de-la-ultraderecha/?utm_source=Meta&utm_medium=FB-IG&utm_campaign=T_O&utm_term=Post&utm_content=%7Bplacement%7D&keyword=%7Bkeyword%7D&fbclid=PAAaYqF9u9DEDD8ALP0LsSyh5YUAkCbrN9p74Db5PZvInjyS5E1yxWMMbHF5A