Descaminhos da Esquerda, de Adriano Nascimento e Ivo Tonet

Quarta-capa:

 

Este livro é o resultado de um estudo sobre a problemática do chamado “socialismo democrático”, questionando a sua origem, a sua natureza e o seu ponto de chegada. 

O ponto de partida foi o pressuposto de que, nas últimas décadas, vários partidos, que se denominavam de esquerda, tinham assumido o poder do Estado com a promessa de construir um mundo mais justo e humano. Opondo-se ao que chamavam de “socialismo autoritário”, ou “socialismo real”, afirmavam eles a necessidade de trilhar um caminho democrático na construção desse novo mundo. No entanto, ao invés de darem passos nessa direção, tudo o que faziam era auxiliar o capital a enfrentar a profunda crise que estava atravessando.

Temos aqui uma possível conclusão sobre estes “desvios”. As análises não seguiram o percurso predominante das tendências hoje hegemônicas da ciência política acadêmica, cuja ênfase recai sobre as análises estatísticas e quantitativas, coeficientes eleitorais dos partidos, representação legislativa, padrões de votação, sistemas eleitorais etc. 

A pesquisa deu relevo ao desenvolvimento social e ideológico da esquerda, em seu processo de abandono da perspectiva revolucionária e adoção da lógica parlamentar e democrática como caminho mais adequado para a edificação do socialismo. Investigou-se o fenômeno histórico de longa duração que parte de um projeto orientado para a superação do capitalismo, que trilha depois o caminho das reformas parciais assumidas como passos gradativos para o socialismo, e que termina assumindo propostas de bem-estar social dentro do próprio capitalismo.

 

Sumário

1. Marx e a centralidade do trabalho, 17 

2. O caminho social-democrata para o socialismo, 41
2.1. O reformismo social-democrata, 43
2.2. Revisionismo e reformismo em Bernstein e Kautsky, 49
2.3. Estado, democracia e socialismo, segundo o reformismo social-democrata, 56
2.4. As consequências do caminho social-democrata para a construção do socialismo, 64

3. Os descaminhos da revolução soviética, 67 

4. O eurocomunismo e a via democrática para o socialismo, 85
4.1. Crise do stalinismo e eurocomunismo, 86
4.2. Ditadura do proletariado x democracia progressiva, 96 

Considerações finais, 101 

Bibliografia, 121

 

Entrevista com os autores para o site da editora Alfa & Ômega:

 

AO: Historicamente como se deram as tentativas de implantação dos regimes socialistas no mundo? 
Autores: Houve tentativas na Russia, na China, em Cuba, no Vietnam, em vários países da Europa Oriental e da África. Todas elas em países atrasados.

AO: Como se define o socialismo revolucionário?
Autores
: Socialismo revolucionário implica, necessariamente a superação radical do capital através da instauração de uma nova forma de produção da riqueza material que se chama trabalho associado, vale dizer, o controle livre, consciente, coletivo e universal dos produtores sobre o processo de produção e, consequentemente, sobre o conjunto do processo social.
Observação importante: não confundir caminho revolucionário para o socialismo, tal como historicamente aconteceu, com socialismo revolucionário. São duas coisas completamente diferentes.

AO: Quais as principais diferenças entre o chamado socialismo revolucionário e o socialismo democrático? 
Autores: Aqui há um a confusão entre caminho revolucionário para o socialismo, tal como historicamente aconteceu, e socialismo revolucionário. Socialismo revolucionário significa a erradicação radical do capital. Caminho revolucionário para o socialismo significa, em nosso livro, as tentativas de fazer essa ruptura radical a partir de países atrasados. Caminho democrático significa pensar que socialismo é “a democracia sem fim”, ou seja, o aperfeiçoamento indefinido da forma democrática da sociedade, esquecendo que democracia é a forma política do capital. 

AO: Qual a gênese desse modelo de socialismo que se convencionou chamar de socialismo democrático? Quais são os seus teóricos? 
Autores: Num sentido amplo, socialismo democrático tem sua gênese na segunda metade do século XIX, com a social-democracia alemã. Bernstein, Kautski e alguns autores austríacos estão entre seus formuladores iniciais. Na segunda metade do século XX assumiu outras formas, especialmente a forma do eurocomunismo. Vários intelectuais do PC italiano estão entre os principais teóricos dessa via, com Togliatti à frente. 

AO: Não existiria aí uma contradição? O socialismo revolucionário não pode ser chamado de democrático? 
Autores: Não pode, porque democracia é a forma da liberdade possível sob a regência do capital. Democracia e cidadania são o outro lado da moeda do capital. Socialismo, ou mais claramente, comunismo, é a forma da liberdade plena, isto é, uma forma da liberdade que é plena exatamente porque, tendo desaparecido a desigualdade social, os homens formarão uma autêntica comunidade humana e serão efetivamente os sujeitos do seu processo histórico. A forma da liberdade no socialismo é essencialmente diferente e superior à da mais desenvolvida democracia. 

AO: Em quais países a ideia do socialismo democrático mais prosperou? 

Autores: Sob a forma social-democrata, na Alemanha. Sob a forma de eurocomunismo, na Itália, França, Espanha. Sob a forma de intenção de construir uma sociedade socialista democrática, em muitos outros países. 

AO: Como se deu o rompimento dos partidos comunistas europeus com as orientações vindas de Moscou? 
Autores: Isto foi um processo muito complexo mas, devido, fundamentalmente, às diferenças entre a sociedade russa (e de outros países similares) e a sociedade nos países europeus (em sua maioria) ocidentais. E pelo fato de o Partido Comunista da união Soviética querer impor seu modelo de revolução como algo universal. 

AO: Os teóricos do socialismo democrático são considerados revisionistas ou reformistas?

Autores: São, ao mesmo tempo, revisionistas, pois revisam as ideias de Marx e reformistas, pois propõem um caminho ao socialismo pela via da reforma. 

AO: Pelo fato de as tentativas de implantação do socialismo democrático terem acontecidos na Europa, não estaria claro, já a partir daí, que os seus defensores só queriam reformar o capitalismo? Isto é, nestes países o capitalismo já tinha atingido o máximo de seu desenvolvimento e um regime socialista não poderia perder esse avanço e acabou incorporando-o na sua trajetória? 
Autores: Bem, socialismo democrático se chama assim exatamente porque não pretende fazer uma ruptura radical com o capitalismo, mas apenas aperfeiçoá-lo, ampliando para toda a humanidade o que de melhor foi conquistado até então.

AO: A forma burguesa da vida europeia, já definido por um Estado burguês não foi um impedimento para a implantação de um Estado proletário? 
Autores: Só para ficar claro: a ideia de um Estado proletário é um contra-senso. 

AO: As novas conceituações surgidas a partir da década de 80 sobre cidadania, defesa do meio ambiente, liberdades individuais que são bandeiras apropriadas pela social-democracia não contribuíram para as dificuldade da implantação do socialismo democrático? 
Autores: Estas novas bandeiras fazem parte de um processo extremamente complexo. Seria preciso desvendar esse processo para compreender o lugar que elas ocupam dentro dele. Os obstáculos mais profundos estão no processo de acumulação do capital, levada em conta a realidade da luta entre capital e trabalho. 

AO: Os descaminhos da esquerda deve ser creditado em maior ou menor grau a qual das duas tendências hegemônicas, (a) socialismo revolucionário e (b) socialismo democrático?
Autores: Seria preciso uma investigação muito ampla e aprofundada para responder a essa questão. (Entrevista a Antônio do Amaral Rocha)

 

Para adquirir: https://loja.alfaomega.com.br//product_info.php?products_id=252&osCsid=2ffd5fca8726d0e18c144c2d7d4f82cc