Robert Fisk: morte irrelevante do ícone da Al-Qaeda

02/05/2011 16:55

O jornalista veterano Robert Fisk, que entrevistou Osama Bin Laden em três ocasiões, afirmou que a morte do ícone da Al Qaeda é muito menos importante que os levantes populares no mundo árabe. “Já afirmei algumas vezes pensar que sua possível morte é muito irrelevante”, disse o correspondente no Oriente Médio do jornal britânico The Independent.

“Ele acreditava ter fundado a Al Qaeda e via existência da rede como sua conquista”, lembrou Fisk. No entanto, o jornalista premiado afirmou que Osama Bin Laden não estava em condições de dirigir de fato as operações da rede terrorista:“Ele não sentava numa caverna com um teclado de computador dizendo ‘apertem o botão b, esta é a operação 52′”. Fisk, que no momento cobre a revolta popular na Síria afirma que o mundo mudou de distintas maneiras, desde 11 de setembro.

“Nos últimos meses, assistimos ao despertar árabe, no qual milhões de muçulmanos superaram suas próprias lideranças”, diz Fisk. “Bin Laden sempre quis livrar-se de Hosni Mabarak, Ben Ali e Gaddafi, afirmando que eram inféis trabalhando para os Estados Unidos. Mas na verdade, fracassou. Foram milhões de pessoas comuns que, mais ou menos de forma pacífica – ao menos no Egito e na Tunísia – acabaram com as ditaduras.”

“É preciso lembrar que estes regimes afirmaram, por anos, que os norte-americanos deveriam apoiá-los, pois, do contrário ‘a Al Qaeda iria tomar o controle’. Mas isso nunca ocorreu. É importante notar que, uma semana após a queda de Mubarak, no Egito, a Al Qaeda emitiu uma convocação pela sua derrubada. Foi patético”, continua Fisk. Ele afirma que as comemorações nos Estados Unidos, em favor da morte do terrorista, tem pouco significado.

“Penso que Osama perdeu relevância há bastante tempo. Se os Estados Unidos tivessem matado Bin Laden um ano ou dois depois de 11 de Setembro, um pouco da emoção que estão vivendo seria importante. Todos estes punhos no ar, celebrando vitória, são boas imagens, mas não têm muito sentido”, prossegue o jornalista. “O que importa no momento, no mundo, é o despertar doa árabes, para livrar-se de seus ditadores”.