EUA: A Falsa Saída da Crise

26/01/2012 10:04

EUA: A Falsa Saída da Crise

 

 

Crise capitalista nos EUA
A crise sem retorno da indústria manufatureira

A imprensa burguesa tem falado sobre a saída da crise dos EUA com o objetivo de fortalecer a candidatura de Obama, que é o favorito dos especuladores financeiros

25 de janeiro de 2012

A imprensa imperialista mundial tem noticiado com intensidade nos últimos dias que a indústria nos EUA teria crescido 0,5% no mês de dezembro, depois de ter caído 0,2% no mês de novembro, que a confiança das construtoras imobiliárias teria melhorado e que o País estaria prestes a sair da crise.

O índice de confiança no mercado imobiliário, o S15HOME, atingiu o seu maior nível desde maio de 2010 de acordo com o relatório da Associação Nacional de Construtoras/ Wells Fargo. O índice Supercomposite Homebuilding Index da Standard & Poor’s aumentou 15%.

As previsões da FED (Reserva Federal) em relação ao crescimento da indústria para 2012 é de entre 0,0% a 0,8%.

O aumento da demanda estaria elevando os lucros, que, por sua vez, estariam levando as fábricas à contratação de trabalhadores e ao aumento das horas trabalhadas.

De acordo com o Departamento de Trabalho, 23.000 novos empregos foram criados no mês de dezembro, o maior nível no segundo semestre de 2011. O número de horas médio trabalhado pelos operários aumentou para 41,5 horas semanais, o maior desde o mês de maio de 2010.

Investimentos em alguns setores são destacados como provas da suposta recuperação da economia norte-americana na Administração Obama. A multinacional alemã BMW, a maior fabricante de automóveis de luxo a nível mundial, investirá US$ 900 milhões no Estado da Carolina do Sul com o objetivo de produzir um novo utilitário esportivo, que permitirá o aumento da capacidade de produção instalada de 276.100 unidades para 350.000.

Na verdade, não existe uma recuperação consistente da indústria norte-americana e sim a propaganda orquestrada para promover a candidatura de Obama na reeleição dos EUA que aparece como o candidato mais apropriado para manter os mecanismos especulativos que continuam garantindo altas taxas de lucro para os especuladores financeiros e, ao mesmo tempo, conter os protestos das massas trabalhadoras através de programas sociais e muita demagogia.

As exportações norte-americanas caíram no mês de novembro pelo quarto mês consecutivo de acordo com os dados do Departamento de Comércio.

O percentual do mercado automobilístico, carro chefe da indústria norte-americana, controlado pela produção local caiu de 71,1% em 1998 para 44,8% em 2009. Nos EUA, são produzidos menos automóveis que na China.        

O aprofundamento da crise capitalista na Europa e nos EUA impacta diretamente a expansão das manufaturas norte-americanas devido à queda da demanda.


Por trás da desindustrialização dos EUA está o esgotamento histórico do capitalismo


A transferência das manufaturas e a entrada no mercado mundial de centenas de milhões de novos trabalhadores em condições de semiescravidão, que começou na década de 80, com o auge do neoliberalismo, foi o mecanismo encontrado pela burguesia imperialista para continuar obtendo polpudas taxas de lucro e controlar a inflação perante o esgotamento da chamada era dourada do capitalismo, baseada em altíssimos investimentos estatais, com a crise mundial de 1974.

Como parte dos acordos do imperialismo norte-americano com o governo chinês, que começaram com a visita do presidente dos EUA Richard Nixon à China em 1972, a moeda local, o yuan, foi desvalorizada, no início dos anos 80, de 1,5 por dólar para 8. A concorrência “obrigou” às multinacionais imperialistas a seguir o processo de migração para a China sob pena de ir à bancarrota.

Ao mesmo tempo, no final da década dos 70, o todo-poderoso Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, orquestrou a implementação das políticas neoliberais que foi costurada no chamado Consenso de Washington anos mais tarde. Além da exploração da mão de obra semiescrava das centenas de milhões de trabalhadores asiáticos, à qual iria somar-se a mão de obra dos países do bloco soviético com a derrubada da União Soviética no início da década dos 90, as principais empresas públicas de, praticamente, o mundo todo foram repassadas a preço de banana para os especuladores imperialistas. A maior parte das grandes empresas privadas passaram a ser controladas diretamente pelas multinacionais imperialistas. Leis ultra-espoliadoras, como a Lei de Patentes e a Lei da Propriedade Intelectual têm mantido o monopólio tecnológico usureiro em todos os setores da economia.

Esses enormes volumes de recursos não foram suficientes para conter a decadência do capitalismo em decomposição. As multinacionais têm ficado cada vez mais dependentes do estado burguês e da extração de lucro através da exploração de mão de obra semiescrava. Um punhado de grandes bancos imperialistas, controlados por uma dúzia de famílias que dominam o mundo, têm aumentado, de maneira crescente, o seu domínio de toda a economia capitalista mundial. Mas a sua fonte de lucros tem se distanciado cada vez mais das atividades produtivas e se focado na especulação financeira, principalmente através da promoção de derivativos financeiros, através dos quais têm transformado o mundo num verdadeiro casino financeiro, na produção e venda de armas e a obtenção de rendas através de royalties provenientes do monopólio tecnológico e da espoliação dos recursos naturais e humanos.

O capitalismo não consegue avançar no desenvolvimento industrial nos países centrais devido à queda da taxa de lucros provocada pela diminuição do uso de mão de obra (a verdadeira criadora de valor) ocasionada pelo uso crescente da tecnologia que, por sua vez, é provocado pela concorrência.


O impacto sobre a classe operária


O pico dos empregos na indústria dos EUA foi atingido em 1979; no presente momento, caiu pela metade. Na última década, foi eliminada a terça parte dos empregos diretos.

Após a migração das manufaturas de baixo valor agregado, como a indústria têxtil, de sapatos e brinquedos para a China, Paquistão, Vietnam e Camboja, regiões inteiras dos EUA, particularmente o estado da Carolina do Sul, ficaram devastados.

As indústrias de alto valor agregado que migraram, tais como a de automóveis, eletrônicos, fabricação metálica e químicos especiais, entre outras, além dos salários mais baixos, buscaram controles sindicais e trabalhistas, e regulamentações mais fracas.

Quando algumas novas regras na regulamentação dos EUA passaram a obrigar a indústria automobilística a produzir automóveis com consumo de combustível mais eficiente, na década de 80, várias plantas foram levadas ao México. A situação ficou particularmente grave quando todas as grandes montadoras quebraram em 2008 e o preço da gasolina disparou, que hoje está em torno de US$ 3,5 por galão, promovido pela especulação nos mercados futuros de petróleo, acabou por inviabilizar o seu modelo de negócios.

A crise capitalista transformou o declínio dos empregos industriais em colapso em 2008. Somente entre 2008 e o primeiro semestre de 2009, foram eliminados 2 milhões de empregos, 15% do total remanescente, apesar dos salários terem caído em relação à Alemanha e o Japão.

A classe operária mundial enfrentou o maior refluxo da sua história que só terminou com o colapso capitalista de 2007-2008. Uma nova classe operária começou a surgir nos EUA, com benefícios menores e a proliferação do chamado sweat shop, terceirizações onde os operários são, principalmente, imigrantes desprovidos de qualquer direito.

Os benefícios dos trabalhadores nos países atrasados, inclusive as aposentadorias e os vários benefícios, são extremamente rebaixados na comparação com o sistema montado após a Segunda Guerra Mundial, em cima das políticas do chamado “estado de bem-estar social”, que tinham como principal objetivo conter o avanço revolucionário a nível mundial. Os benefícios foram quase eliminados e a jornada e a intensidade do trabalho aumentadas.


Quais são os principais fatores que impedem o desenvolvimento industrial dos EUA?


Os salários mais baixos dos EUA, os do Estado da Louisiana, ainda são excessivamente altos sob o ponto de vista dos capitalistas – em torno de duas vezes dos praticados na China, e por esse motivo impossibilitam a retomada industrial nos EUA. O imperialismo tenta controlar, até onde é possível, a deterioração das condições de vida nos países centrais como uma maneira de desviar a revolução para os países atrasados e secundários.

Outro aspecto fundamental que dificulta o crescimento industrial nos EUA é a existência de enormes e poderosos sindicatos que são controlados com migalhas provenientes da exploração dos países atrasados.

Durante o colapso da indústria automobilística de 2008, a imprensa imperialista bombardeou sobre os altos custos dos salários das indústrias de Detroit, sindicalizados no UAW (United Auto Workers – Trabalhadores da Indústria Automobilística Unidos) na comparação com as indústrias do Sul do País onde os trabalhadores não estão organizados em sindicatos.

No ano de 2007, o salário médio pago em Detroit pela indústria automobilística era de US$ 29 por hora. Mas, de acordo com uma matéria da época do New York Times, o “salário médio é de US$ 70 por hora” considerando o custo pago por hora mais os benefícios atuais e para os trabalhadores aposentados, principalmente saúde e pensões, e todo o histórico acumulado.

O salário médio pago numa planta da Toyota em Kentucky era de US$ 30 enquanto no Japão o salário médio pago é de US$ 22. Os custos relacionados com mão de obra representam 10% do custo total dos automóveis.

Em termos históricos, a indústria nos EUA, principalmente a indústria automotiva, tem sido um dos setores com os maiores salários, aproximadamente 30% maiores que os salários pagos nos setores de serviços, educação e saúde. Mas os maiores salários são pagos hoje no setor financeiro.

Enquanto a Toyota produz 60% dos seus veículos no Japão, a General Motors produz apenas 30% nos EUA. Mas o comum denominador para as multinacionais imperialistas é que nas matrizes todas elas têm prejuízos; os seus lucros provêem das subsidiárias dos países atrasados, sejam elas o Brasil, Índia, China ou a Europa Oriental. O repasse dos lucros é maximizado através de mecanismos legais e ilegais, tais como as importações das subsidiárias a preços rebaixados, as exportações a preços aumentados, a cobrança por royalties o financiamento com recursos locais (no caso do Brasil o grande financiador das montadoras é o BNDES) e, principalmente, a especulação financeira nos mercados de ações, as emissões de títulos privados etc.

O imperialismo norte-americano mantém o foco na especulação financeira, pois detém o controle da impressão de papel moeda dólar, sem lastro produtivo, através do controle da comercialização do petróleo, os “petrodólares”, que serve como base para as atividades verdadeiramente rentáveis – a especulação com os derivativos financeiros em cima de títulos hipotecários, da dívida pública e dos mercados futuros de commodities, o controle tecnológico em cima das leis de patentes e de direitos intelectuais e a exportação de armas.

O incentivo para a indústria tem sido muito menor que os existentes nos outros segmentos da economia. O abatimento de impostos relacionados com pesquisa e desenvolvimento foram cancelados 15 vezes nos últimos 30 anos. Setores de produção de commodities, como petróleo, carvão mineral e agrícolas, contam com subsídios federais e reduções de impostos. O setor financeiro é um setor, praticamente, desregulamentado que domina a economia como um todo.

Parte dos impostos provenientes da indústria automobilística foram usados para fundear o sistema de saúde privado com recursos públicos na Administração Clinton como uma maneira de repassar altos volumes de recursos públicos para o sistema financeiro, que controla os planos de saúde.

A grande maioria das multinacionais industriais que atuam nos EUA dependem das compras do Governo em 50% a 90% do seu faturamento; isto é particularmente claro nas principais empresas que fazem parte do complexo industrial militar: Northrop, Raethon, Boeing, General Dynamics e muitas outras.


Apesar das multinacionais imperialistas norte-americanas deterem o controle manufatureiro mundial, o imperialismo encontra-se mais vulnerável ao ascenso revolucionário


O imperialismo norte-americano não perdeu o seu controle no setor manufatureiro mundial. As multinacionais imperialistas norte-americanas, junto com as multinacionais japonesas e alemãs, o dominam a nível mundial, apesar de tê-lo transferido dos EUA. Mas essas transferências representam uma amostra de enfraquecimento geral do imperialismo devido ao aumento das vulnerabilidades nos países centrais perante o aumento da crise capitalista. Obviamente, que o triunfo da revolução proletária numa das cinco principais potências imperialistas, e, principalmente, nos EUA, significaria o fim do capitalismo a nível mundial.

O objetivo das multinacionais imperialistas é “maximizar o lucro dos acionistas” [especuladores financeiros], e ele está explicitamente escrito na Missão de todas elas. Os lucros para os acionistas devem ser apresentados em períodos cada vez mais curtos o que leva a que o planejamento da produção pelas multinacionais cada vez esteja mais orientado à especulação financeira. Os balanços são feitos trimestralmente.

As opções para o capitalismo, enquanto que regime condenado historicamente estão, praticamente, acabadas. As taxas de juros, através das quais as multinacionais imperialistas japonesas, alemãs e norte-americanas obtêm os seus empréstimos encontram-se próximas a 0%.

As atualizações tecnológicas, provocadas pelo aumento da composição orgânica do capital, com a diminuição do capital variável (mão de obra) no processo de produção reduz, tendencialmente, o lucro dos capitalistas. Por esse motivo, no atual estágio parasitário do capitalismo, o lucro do imperialismo é obtido através de mecanismos especulativos, do uso de mão de obra escrava e semiescrava, da produção de armas e produtos supérfluos.

As multinacionais imperialistas europeias e japonesas também têm terceirizado boa parte da sua produção e migrado partes importantes da sua produção para países onde a mão de obra é muito mais barata.

Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento da indústria no geral, e da indústria automobilística em particular, têm se reduzido enormemente apesar de toda a propaganda burguesa em relação à inovação. Várias patentes estão guardadas sob sete chaves devido a que o objetivo do capitalismo é gerar lucros e não o bem-estar da sociedade. Já existe tecnologia para a fabricação de veículos com energia sustentáveis, tais como hidrogênio, energia solar e outras. Mas o papel do petróleo no domínio imperialista da humanidade impede qualquer avanço neste sentido. O controle das transações dos 85 milhões de barris que são comercializados diariamente em dólar permite manter a verdadeira ditadura financeira do imperialismo norte-americano através de emissões de papel moeda, sem lastro produtivo. As exportações de papel moeda dólar são o principal componente das exportações norte-americanas. Sobre ele está montada a parafernália de derivativos financeiros, principalmente em cima de títulos hipotecários, commodities comercializadas nos mercados futuros e títulos públicos e privados, a maioria deles títulos podres, que representam a maior fonte de especulação financeira e das altas taxas de lucro do imperialismo.

 

Fonte: https://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=34788