Chávez vs. Obama: Enfrentando as eleições presidenciais.de James Petras

22/09/2011 09:42

Chávez vs. Obama: Enfrentando as eleições presidenciais

– "Estímulo Capitalista" vs. "Recuperação económica socialista"

por James Petras

Obama e Chávez. Dois presidentes em exercício candidatam-se à reeleição em 2012, Hugo Chávez na Venezuela e Barack Obama nos Estados Unidos. O que torna estas duas corridas eleitorais significativas é que representam duas respostas opostas à crise económica global:

Chávez, de acordo com o seu programa socialista democrático, continua a aplicar políticas de promoção de investimento público de larga escala e longo prazo nas áreas do emprego, do bem-estar social e do crescimento económico; Obama, guiado pelo seu compromisso ideológico com o capitalismo financeiro das grandes empresas, despeja milhares de milhões de dólares no resgate dos especuladores da Wall Street, concentra-se na redução do défice público e na redução de impostos, enquanto oferece subsídios governamentais às empresas na esperança de que os bancos voltem a emprestar e o sector privado volte a investir.

Obama espera que o sector privado comece a contratar os desempregados. A estratégia de Chávez dirige-se para um aumento da procura interna popular através do aumento dos salários sociais. A estratégia de Obama dirige-se para o enriquecimento da elite, contando com um efeito de gotejamento para a base da sociedade (trickle down effect). O programa de recuperação económica de Chávez baseia-se no sector público, o estado, que toma a dianteira face às crises induzidas pelo mercado capitalista e à incapacidade de investimento do sector privado. O programa de recuperação de economia e do emprego de Obama depende inteiramente do sector privado, utilizando benefícios fiscais para estimular investimentos domésticos que possam gerar emprego.

De acordo com os especialistas e os politólogos, o desempenho sócio-económico de cada um dos Presidentes será decisivo para as suas reeleições em 2012.

Medindo o desempenho dos presidentes Chávez e Obama face à crise económica

Durante os últimos três anos, ambos os presidentes enfrentaram crises sócio-económicas profundas, das quais resultaram um aumento do desemprego, uma recessão económica e a exigência, por parte da população, de que a formulação de um programa de recuperação da economia fosse politicamente liderada.

O presidente Chávez respondeu a essa exigência através de um largo programa de investimento público em programas sociais. Milhares de milhões foram investidos num programa de urbanização destinado a construir um milhão de casas nos próximos anos. Chávez diminuiu as tensões militares e reduziu os conflitos fronteiriços negociando um acordo político com o regime de direita do colombiano Santos.

Chávez aumentou o salário mínimo, a segurança social e os pagamentos de pensões, aumentando assim o consumo das camadas de baixos rendimentos, estimulando a procura e aumentando o lucro das pequenas e médias empresas. O estado também iniciou projectos infraestruturais de grande porte, dos quais se destacam as auto-estradas e transportes em geral, criando assim emprego em actividades de grande intensidade. O governo Chávez manteve o nível de vida ao controlar os preços alimentares e de outros bens essenciais, o que beneficiou a procura popular em detrimento dos lucros dos donos dos super-mercados. O governo Chávez nacionalizou minas de ouro lucrativas e repatriou as reservas ultramarinas de forma a poder financiar o seu programa de recuperação económica baseado no aumento da procura, abstendo-se de dar benefícios fiscais aos ricos e de resgatar bancos falidos e empresas privadas.

Obama recusou todo e qualquer grande investimento público de longo prazo destinado a criar empregos: a sua proposta de "Empregos para a América" reduzirá temporariamente, na melhor das hipóteses, o desemprego em menos de 0,5%. Prosseguindo as políticas em favor dos accionistas da Wall Street, Obama envolveu-se profundamente na redução do défice, ou seja, em cortes de grande amplitude ao nível da despesa pública, especialmente na sua vertente social. Obama, com o apoio da extrema-direita, concordou com as propostas regressivas de cortes nos impostos destinados a financiar a popular Medicare, a Medicaid e os programas da Segurança Social. A sua proposta de financiamento do programa "Empregos para a América" depende dos cortes na taxa para a Segurança Social, o que garantidamente, resultará numa redução dos pagamentos e num défice, ou pior, facilitará a privatização – oferecendo a Segurança Social à Wall Street, uma ameixa de três milhões de milhões (trillion) de dólares.

Obama ignora a execução das hipotecas de mais de 10 milhões de famílias – aumentando o número de sem-abrigo e a degradação da habitação – de forma a poder resgatar os bancos e as suas hipotecas fraudulentas.

Obama aumentou as despesas militares, multiplicou as tropas em combate no estrangeiro, as operações terroristas clandestinas e o aparato da espionagem interna, aumentando assim os défices em detrimento de investimentos produtivos na educação, no desenvolvimento tecnológico e na promoção das exportações.

Ao contrário de Chávez, que indexou as pensões e os salários à inflação e reforçou o controlo dos preços, Obama congelou os salários federais e os pagamentos da Segurança Social, o que resultou num decréscimo de 7% do rendimento real ao longo dos últimos três anos.

Segundo os mais recentes dados do Instituto de Censos dos Estados Unidos (Setembro 2011), durante a presidência de Obama, 46,2 milhões de americanos são pobres, o maior número de sempre. O rendimento familiar médio caiu 2,3% entre 2009 e 2010. O número de americanos pobres aumentou de 13,2% em 2008 para 15,1% em 2010. Quase uma em cada quatro crianças vivia na pobreza em 2010, e mais de 2,6 milhões de cidadãos americanos caíram na pobreza num único ano. Por outro lado, e na linha da política económica do gotejamento levada a cabo por Obama, o número de americanos ricos – que ganham mais de 100 mil dólares – sofreu pouco, ou nada: lojas especializadas no sector do luxo, como a Tiffany's, dão conta de um aumento de 15% nas vendas.

Os 10% mais pobres da população foram aqueles que sofreram mais, uma queda no rendimento de 12,1% entre 2009 e 2010, enquanto os 10% mais ricos viram o seu rendimento diminuir 1,5%. Dos 34 membros da OCDE, os Estados Unidos têm, juntamente com o México, o Chile e Israel, o maior índice de desigualdade entre as classes sociais. As políticas de estímulo "de cima para baixo" de Obama salvaram os banqueiros sacrificando a classe trabalhadora e a classe média.

As consequências político-económicas do top down de Obama e do bottom up de Chávez são gritantes em todos os aspectos. A Venezuela cresceu 3,6% na primeira metade de 2011 enquanto os Estados Unidos estagnaram a menos de 2%. Ainda pior, durante a segunda metade do ano, Obama e os seus assessores confessaram temer que os Estados Unidos se estejam a dirigir para um processo de recessão dupla intercalada por um período de recuperação, ou seja, para um repique recessivo (double dip recession). O Presidente do Banco Central Venezuelano, ao contrário, previu um crescimento acelerado em 2012.

Enquanto o desemprego norte-americano se mantém acima dos 9%, e mesmo a mais de 19% se combinado com o sub-emprego, na Venezuela, os vastos investimentos públicos feitos no sector imobiliário e em infraestruturas estão a gerar empregos e a diminuir o número de desemprego e sub-emprego no mercado de trabalho formal e informal. A condescendência de Obama para com os banqueiros da Wall Street e os falcões da redução do défice, assim como o amplo aumento das despesas em guerras no estrangeiro e aparato securitário interno, levou à bancarrota do tesouro. Pelo contrário, Chávez nacionalizou o lucrativo sector privado das minas, dos bancos e das empresas de energia e diminuiu as tensões militares para aumentar as verbas dos programas sociais, tal como subsídios alimentares. As reduções do défice de Obama levaram a despedimentos massivos no sector da educação e dos serviços sociais.

As despesas sociais de Chávez aumentaram o número de universidades públicas, de escolas básicas e secundárias e de hospitais. Milhões de pessoas perderam as suas casas e Obama ignorou os despejos forçados feitos pelos bancos de crédito, enquanto Chávez começou a resolver o problema da habitação com 1 milhão de novas casas.

Obama empresta dinheiro a custo zero a bancos privados que são incapazes de emprestar às empresas produtivas que criam emprego, preferindo especular em activos estrangeiros (brasileiros) cujas taxas de juro são mais elevadas. Chávez investe directamente em programas infraestruturais de trabalho intensivo, na auto-suficiência económica e no desenvolvimento de centrais eléctricas, refinarias e fundições.

Como resultado da sua estratégia económica reaccionária "de cima para baixo" e das ameaças públicas de cortes em programas sociais básicos como a Medicare, a Medicaid e a Segurança Social, a popularidade de Obama desceu de 80% para 40% ao longo dos últimos três anos e continua a descer. Para além disso, as suas políticas militaristas e pró Wall Street – que aprofundam e alargam as guerras e operações terroristas de Bush e Rumsfeld – viraram o cenário político americano ainda mais para a extrema-direita. Neste último trimestre de 2011, Obama parece vulnerável a uma derrota eleitoral.

O presidente Chávez, ao contrário, impulsionado pela recuperação económica, baseada em programas positivos de expansão social e investimento público, viu a sua popularidade aumentar de 43% em Março de 2010 para 59,3% em 7 de Setembro de 2011. A oposição apoiada pelo Estados Unidos, está fragmentada, fraca e incapaz de contrariar a percepção esmagadoramente positiva que a população tem da urbanização e dos projectos infraestruturais que beneficiam os trabalhadores, as empresas de construção e os empreiteiros.

Chávez é vulnerável no que toca a questões de segurança, corrupção administrativa e ineficácia. Mas é visto como tendo dado passos importantes para corrigir estas áreas problemáticas. Polícias formados por uma nova academia fazem um policiamento de proximidade honesto e eficiente, o qual, nos projectos piloto, reduziu o crime violento em 60%. Esforços no que toca a acabar com a corrupção e a ineficácia burocrática estão ainda pendentes.

Conclusão

A comparação entre as presidências de Chávez e de Obama mostra-nos um contraste agudo entre um programa de recuperação da economia de "baixo para cima" (bottom up), socialista e informado e um programa fracassado de estímulo capitalista de "cima para baixo" (top down). Enquanto o público americano exprime a sua hostilidade face à pilhagem do tesouro por parte da banca privada, às ameaças do governo em relação ao que resta do sistema de segurança social, e à incapacidade de Obama no que toca à redução dos níveis, persistentemente elevados, de desemprego e sub-emprego, a popularidade de Chávez aumenta, juntamente com o optimismo de três quintos do eleitorado em relação ao seu mandato. Se o governo de Chávez prosseguir e aprofundar o seu programa de estímulos económicos "de baixo para cima", se a economia continuar a crescer, e ele recuperar do cancro, é muito provável que obtenha em 2012 uma vitória esmagadora.

Pelo contrário, se Obama continuar a submeter-se aos interesses das grandes empresas e da elite financeira, enquanto corta e queima os programas sociais, continuará o seu caminho descendente rumo a uma bem merecida derrota e ao esquecimento.

A recuperação económica da Venezuela através de programas sociais avançados é uma mensagem poderosa endereçada ao povo americano: existe uma alternativa às políticas económicas de top down: chama-se socialismo democrático e o presidente Chávez é o seu defensor, que fala e trabalha para o povo, e que assim se opõe ao vigarista Obama que fala para o povo e trabalha para os ricos.

17/ Setembro /2011


O original encontra-se em https://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26617 . Tradução de MQ.

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