Os Protestos no Egito – As greves contra a Junta Militar continuam

08/07/2011 13:58

World Socialist Web Site - [Jonathan Aswan, Tradução de Diário Liberdade] 4 de Julho de 2011. Na Sexta (01/07) dezenas de milhares de trabalhadores e jovens saíram para as ruas em pelo menos cinco províncias no Egito, para denunciar as políticas da Junta Militar sustentada pelos EUA e seu líder, o Marechal de Campo Mohammed Hussein Tantawi.


Os protestos são uma resposta à violenta repressão, na noite de terça e na quarta pela manhã (28 e 29/06), infringida aos manifestantes e às famílias daqueles que morreram durante as revoltas sociais no Egito. Durante a repressão, o regime militar e a polícia trabalhando com meliantes atacaram brutalmente milhares de manifestantes com canhões de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Mais de 1.100 pessoas foram feridas e, de acordo com testemunhas, alguns chegaram a morrer nos confrontos. (Veja “Egyptian military carries out bloody crackdown on protests”)

Este dia de protestos foi chamado de “Sexta da Retribuição”. Milhares de pessoas saíram para as ruas na Alexandria e se encontraram em frente a Mesquita al-Quaed Ibrahim para exigir a imediata condenação dos policiais acusados de matar cerca de 1.000 manifestantes desde o início da revolução. Alguns dos manifestantes bloquearam a avenida Principal Corniche para protestar contra a recente brutalidade policial.

Na cidade industrial de Suez, um dos epicentros da revolução, centenas de manifestantes foram para a praça Arbaeen para exigir a condenação do ditador deposto Hosni Mubarak. Centenas também se reuniram para manifestações em Ismailiya, Baheira e no Qena.

No Cairo, milhares foram em direção à Praça Tahrir, onde um sit-in aberto e irrestrito é mantido desde os confrontos na quarta. Uma testemunha em conversa com o WSWS comparou a violência massiva utilizada contra eles aos métodos do ditador deposto Hosni Mubarak.

“28 de Julho realmente se pareceu com o 28 de Janeiro, quando nós lutávamos com a polícia durante a Sexta da Raiva”, comentou um jovem chamado Mohammad.

Seu amigo acrescentou, “Na verdade, o que está acontecendo nos mostra que nada mudou de verdade. Por que esta violência contra os manifestantes? Por que essas tentativas de assassinatos com el-Adly [o notável ex ministro do Interior] denúncia o tempo todo? Por que nada está mudando para melhor? Nós realmente sentimos que o regime de Mubarak continua no poder.”

Tais sentimentos são comuns entre os trabalhadores egípcios e os jovens depois de aproximadamente cinco meses em que os militares estão no poder. Em uma tenda armada no meio da praça pode-se ler as palavras: “O Conselho Militar é a extensão do regime de Mubarak”.

Uma manifestante parada ao lado da tenda explica: “A Junta Militar está promovendo a mesma política de Mubarak contra a população egípcia. O Estado de Emergência está em vigor, o Concelho Militar sancionou uma lei que proíbe protestos e greves e continua um agente dos EUA e de Israel.”

As canções entoadas pelos manifestantes na Praça Tahrir são abertamente dirigidas contra os militares no poder. Slogans que incluem: “As pessoas querem a queda do Marechal de Campo”, “Tantawi é Mubarak” e “Abaixo com a Junta Militar e com a polícia”. Manifestantes também bradavam por uma “Segunda Revolução” ou por uma “Nova Revolução”. Outros pediam por julgamentos públicos e pela execução de Mubarak, el-Adly e Tantawi.

Cerca de 4 horas da tarde, a marcha se dirigia de Tahrir em direção ao Escritório do Gabinete para clamar por justiça para a família dos mártires. Outra manifestação foi ao Ministério do Interior, onde a polícia militar tentou provocar os manifestantes, atirando pedras e fazendo gestos provocativos. Os manifestantes devolveram as pedradas e responderam entoando canções contra a polícia e o exército.

Apesar de tais pequenos incidentes, não houve destacamento de polícia ou de militares encaminhados para locais próximos às manifestações. A Junta obviamente sente-se muito fraca para confrontar os manifestantes com renovada violência.

Mas não se pode haver a mais pequena dúvida  de que os militares estão se preparando para utilizar meios  cada vez mais violentos de repressão, nos dias e meses vindouros. A violência brutal desta quarta foi outro movimento em direção à repressão aberta da elite dominante egípcia com o objetivo de suprimir a crescente luta de classes.

A corrente greve que envolve milhares de trabalhadores do Canal de Suez deixou o distrito de Takfik Port sem eletricidade ontem, como os trabalhadores anunciaram, eles podem ampliar seus protestos nos próximos dias se suas exigências não forem atendidas. Eles exigem o aumento de 40% no salário mínimo, 7% de pagamento bônus e o aumento do horário de almoço. Os trabalhadores também pediram pela saída do General Ahmed Fadel, o Diretor Executivo da Gerencia do Canal de Suez.

Parece que os militares estão preparando uma violenta repressão às greves. Os trabalhadores dizem que tem havido confronto entre a polícia militar e os trabalhadores na ponte principal que leva à entrada do Canal de Suez. No dia 19 de Junho os policiais já utilizaram munição letal para dispersar os grevistas que agora completam 4 meses de greve.

Outro sit-in aberto está sendo realizado pelos funcionários da área de saúde na província de Qena, em frente a Diretoria de Saúde. Os trabalhadores exigem contras de trabalho permanentes e fixos e salários mais altos.

Com o aprofundamento da crise econômica - a libra egípcia está em baixa a seis anos - os trabalhadores egípcios serão levados a grandes batalhas no próximo período. As massas egípcias empobrecidas já estão enfrentando o crescente desemprego e o exorbitante preço do alimento.

O fato de que a maior parte dos partidos políticos não tenham participado dos protestos da sexta-feira mostra mais uma vez que nenhum deles está do lado do trabalhador e dos pobres. Todos os partidos burgueses - sejam eles liberais, islâmicos ou de “esquerda” - apoiam a junta militar, enquanto fazem uma variedade de críticas torpes; todos eles se mostram como um baluarte contra a “segunda revolução”, protegendo a ordem burguesa contra a crescente militância da classe trabalhadora.

Os partidos de “esquerda” que participaram dos protestos - o Partido Karama, al-Tagammu, o Partido da Aliança Solcialista (PAS), e o Partido Democrático dos Trabalhadores (PDT)- apenas o fizeram para tentar desorientar as manifestações. Estes grupos de pseudo esquerda da “Frente Socialista” deliberadamente se abstiveram de chamar por uma “segunda revolução” contra a Junta Militar e sua substituição por um governo dos trabalhadores.

Enquanto a Junta egípcia tenta inundar a revolução em sangue, os grupos da pseudo esquerda estão propagando a ilusão de que o regime pode ser pressionado a levar uma política “mais democrática e menos opressiva”. Nos panfletos que eles distribuíam nos protestos de sexta, eles diziam que o aparato de segurança ainda pode ser “reestruturado”. O PDT clamava pela exoneração imediata do Ministro do Interior General Mansour el-Essawi e sua substituição por um “ministro do interior civil” e o Pas reivindicava um “plano claro de reestruturação do aparato policial”.

Apenas alguns dias após o regime militar ter atacado os manifestantes, Hossam el-Hamalawy (@3arabawy) - um blogueiro reconhecido e membro dos Socialistas Revolucionários (que também faz parte da Frente Socialista) - disse a agencia de notícias Reuters que sente que a Junta Militar está “sinceramente perto de entregar o poder a um governo civil.” (Veja, “Egyptian bourgeoisie and pseudo-left oppose a ‘second revolution”)


Traduzido para Diário Liberdade por E. R. Saracino