Anouar Abdel Malek: O nasserismo na história do Egito

28/11/2011 11:25

 

ANTES DA PRIMAVERA
O nasserismo na história do Egito

1952-1972: qual é, ao término deste período, o balanço da revolução dos Oficiais Livres egípcios, dois anos após a morte de Nasser e quando El Sadat introduz uma mudança pró-EUA? Além da época e sua fraseologia, como não pensar nisso em 2011? A história se constroi em profundidade, a longo prazo...

por Anouar Abdel Malek

(Presidente Gamal Abdul Nasser do Egito, com Fidel Castro de Cuba, no Harlem - Nova York, durante Assembléia Geral da ONU em 1960)

 

Duas datas marcam a crise do renascimento egípcio: 1840 e 1967. Em 1840, as potências da Europa, coligadas contra o ressurgimento do Oriente islâmico em torno do Estado de Méhémet Ali (1805-1847), impõem à Turquia e ao Egito o desmantelamento do monopólio autárquico (tratado de Londres, 1840): o caminho está aberto para introdução dos capitais financeiros europeus, a abertura do istmo de Suez e a ocupação militar britânica, que acontece finalmente em 1882. Porém, conhecemos melhor sobre o golpe contra o nacionalismo árabe, e em primeiro lugar nasserista, pela vitória-relâmpago israelense de junho de 1967.

Em cada um dos casos, trata-se de quebrar o núcleo central, o elemento motor da totalidade do mundo árabe e islâmico: o Egito. Se alguns analistas puderam implorar ansiosamente por uma alternativa a esse papel primordial do Egito no mundo árabe, os países mais próximos conhecem bem a situação: assim que o Egito é atingido, o conjunto do qual ele constitui o centro se sente vulnerável à penetração imperialista.

Em 1840, o movimento nacional contra-ataca colocando em primeiro plano a aliança entre a burguesia egípcia – aquela originada do setor do Estado autárquico de Méhémet Ali –, o exército e os camponeses, especialmente no Delta: essa seria a força de ataque da revolução de 1881-1882, rompida pela ocupação militar britânica, aliada diretamente a uma fração da grande burguesia proprietária de terras (os “feudais”).

De 1882 a 1952, o movimento nacional continua a ser definido em relação à mesma exigência, à mesma problemática: como constituir o maior e mais eficaz movimento de forças nacionais anti-imperialistas?

A partir de 1892, a aliança formada meio século antes se transforma progressivamente em um movimento que reúne a burguesia, tanto a do Estado quanto a comerciante e bancária (Banco Misr), e grande parte dos proprietários de terras, com exceção dos grandes latifundiários. A elas se junta o movimento sindical nas cidades e o movimento cooperativo no interior, por um lado, e os estudantes, por outro.

Essas eram as forças que gravitarão em torno do Partido Nacional, sobretudo na presidência de Mohamed Farid (1908-1914). Em 1920, os partidos socialista e comunista se constituem e participam do movimento até a revolução de 1919-1923 – nesse ano, os primeiros sovietes aparecem nas usinas de Alexandria com a bandeira vermelha da revolução. O período entre guerras leva à onda revolucionária de 1935-1936. Dessa vez, a ação é conduzida diretamente pelos estudantes, sindicatos e grupos políticos ativistas – e não pela direção tradicional da burguesia egípcia. É nessa ocasião que Gamal Abdel Nasser, presidente da União dos Alunos do Secundário, será gravemente ferido na cabeça.

De 1939 a 1952 a radicalização do movimento nacional se acelera de maneira decisiva. As grandes ações são dirigidas por um núcleo central: operários (contam então 450 mil) e estudantes. Uma parte da burguesia – setor industrial e tecnocrático, especialmente – perde a paciência com o controle dos proprietários de terras; setores da pequena e média burguesia nas cidades se juntam à ala esquerda do partido Wafd. A influência revolucionária se espalha pelo interior, especialmente em torno dos centros operários do Delta e do Canal de Suez.

 

OsOficiais Livres

As Forças Armadas são extremamente influenciadas pelo trabalho ideológico e de organização dos comunistas e da Irmandade Muçulmana, mas sobretudo pelos Oficiais Livres. A primavera de 1946 assiste à formação do Comitê Nacional dos Operários e dos Estudantes, que se torna uma liderança política alternativa perante o comando dos partidos minoritários e da direita pró-imperialista.

De 1952 a 1970, sob a direção de Nasser, o movimento passa por mudanças importantes: dessa vez, os superiores do exército constituem o pivô decisivo, em aliança tanto com o setor industrial tecnocrático da burguesia como com o movimento sindicalista e cooperativo, principalmente aquele originário das reformas do regime militar. Entretanto, nos momentos decisivos – Bandung (1955), guerra de Suez (1956), derrota de 1967, morte de Nasser (setembro 1970) –, as massas populares animadas pela influência comunista dão apoio decisivo ao Estado e ao seu chefe, enquanto os setores da burguesia se mantêm na reserva, e depois traem. Assim, durante os dias históricos de 9 e 10 de junho de 1967, enquanto o alto comando militar e os principais dirigentes políticos forçam o presidente Nasser a abdicar devido à sua traição e negligência, as massas se mobilizam em volta da esquerda para impor a continuidade do chefe da revolução à frente do país, apesar da derrota.

O fortalecimento do movimento das forças nacionais anti-imperialistas não se concebe então em oposição ao Estado e ao seu exército. No dia 30 de setembro de 1970, durante o funeral do presidente Nasser no Cairo, do qual participam mais de 5 milhões de pessoas, operários e estudantes levantavam alto suas bandeiras: “Bi’l-gaysh bi’i-shaab nekammel el-meshwâr!” (Com o exército, com o povo, nós continuamos nosso caminho!).

 

A legitimidade histórica

A revolução de 1952 deu à luz um Estado nacional independente que constitui o alvo fundamental da ofensiva imperialista e sionista – como em 1840 o de Méhémet Ali. As condições geográficas e geopolíticas do Egito explicam a estrutura supercentralizada do Estado. Autárquico e autocrático, ele permanece firmemente ligado à sua ideologia centralizadora perante toda a tendência de centrífuga. Como sempre foi preciso proteger o país contra as ondas de invasão – daí o lugar central do exército: de Ramsés a Nasser, passando por Saladin e Méhémet –, o chefe de Estado sempre gozou de uma “legitimidade histórica” – a única que conta nesse país imemorial. Nasser foi o legatário desta e o seu representante mais eminente na época moderna.

A junção entre independência nacional e socialismo não resulta de um projeto ideológico, mas sobretudo da natureza objetiva de um processo de verdadeira libertação nacional em um país dominado ou visado pelo imperialismo. As forças da burguesia autóctone (ditas “nacionais”), simultaneamente ao endurecimento da luta de libertação nacional, se afastam das massas populares, das quais elas temem a tendência radical.

Para lidar com as tarefas eminentemente complexas de uma verdadeira independência nacional – que implica reconquista do poder de decisão sobre todas as esferas da vida social (econômica, militar, política, cultural) –, as massas populares se orientam em direção a um aprofundamento do componente democrático do movimento nacional, o que coloca o problema da democracia econômica e social. A ineficiência da grande burguesia egípcia tradicional tinha levado Nasser a criar um setor público avançado, lançar ondas de egipcianização e nacionalização, optar pela planificação econômica e priorizar a industrialização – principalmente indústria pesada e eletrificação –, em conjunção com a reforma agrária. Em 1962, o Congresso Nacional das forças populares optava mesmo pelo “socialismo científico”, inscrito na Carta de Ação Nacional, da qual resultava a formação da União Socialista Árabe (USA).

A estratégia de aliança do movimento nacional egípcio se articula então com sua inscrição no campo internacional. Até 1939, na verdade, a classe política independentista, principalmente vinda do Wafd, procurava se adaptar à potência ocupante: daí a declaração de independência de 1923 e o tratado anglo-egípcio de 1936. No final da Segunda Guerra Mundial, a grande burguesia de direita antiwafdista e anticomunista chegou ao ponto de tentar colocar o Egito sob a influência do Middle East Defense Pact – que romperá a radicalização do movimento nacional.

 

Apoio dos socialistas

Com o declínio do imperialismo clássico, a ascensão do imperialismo hegemônico norte-americano, a estruturação de Estados socialistas na Europa, a vitória do comunismo na China e a conjunção entre ressurgimento nacional e socialismo na Coreia e no Vietnã, e até mesmo por um tempo na Indonésia, constituem testemunho do impulso de forças anti-imperialistas que podiam, na época, contar com os Estados socialistas, URSS e China principalmente.

Promover, para completar a libertação nacional, uma aliança com o campo socialista, os movimentos terceiro-mundistas e o movimento operário do mundo capitalista: esse foi o mérito histórico da frente interior e exterior impulsionada por Nasser, da neutralidade anti-imperialista de Bandung ao lado de Zhou Enlai (1955) até a aliança preferencial com a União Soviética perante as agressões (1956 e 1967). Sua linha geral era clara, límpida, precisa: radical.

É isso o que contrasta com as decisões de seu sucessor, o presidente Anuar El Sadat. Rapidamente, tratou-se de operar uma mudança radical de opinião e encerrar a “grande aliança” egípcia-soviética. Verdadeiramente, a história das escolhas políticas da burguesia egípcia desde 1882 mostra com evidência que uma fração importante dessa classe sempre escolheu a via do compromisso com o imperialismo, por medo do povo. Foi assim em 1881-1882, quando Mohamed Sultan Pacha e seus amigos instalam o khedive (título do antigo vice-rei do Egito) Tezfik segundo as ordens do pró-cônsul Cromer; em 1919-1939, quando os partidos minoritários de direita governam contra o Wafd e a esquerda, e se impõe pelo ferro e pelo fogo; de 1944 a 1952, na época da tentativa de aliança militar com os Estados membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que culminará com o pacto de Bagdá.

Mas, em outubro de 1951, o Wafd se viu obrigado a denunciar o tratado anglo-egípcio e a permitir uma guerrilha contra a base britânica do Canal de Suez. No dia 26 de janeiro de 1952, o incêndio do Cairo “justifica” o toque de recolher e a lei marcial, que serão anuladas seis meses mais tarde pela tomada do poder pelos Oficiais Livres.

De 1952 a 1970, Nasser ataca com regularidade a direita, mas também os comunistas, correndo o risco de se enfraquecer perigosamente. De forma que em 1967, após a derrota, os principais dirigentes militares e políticos – do vice-presidente Amer ao chefe dos serviços de informação, Salah Nasr; do ministro da Guerra ao ministro do Interior, sem esquecer vários generais – são persuadidos à traição. Acusados de provocar a guerra de junho para derrubar o exército egípcio e forçar Nasser a capitular, a corte marcial os acusa até de ter apostado numa intervenção dos Estados Unidos destinada a “restituir” o Sinai e o Canal de Suez ao Egito, fazendo aparecer a direita pró-ocidental como a restauradora da “independência” após a liquidação dos incapazes aliados soviéticos. Esse complô foi desarmado nos dias 9 e 10 de junho de 1967 por intermédio de plebiscito popular.

 

A morte de Nasser

De 1968 a 1972, as grandes manifestações de estudantes e operários ilustrarão, com certeza, a radicalização do movimento nacional. Mas esta não se beneficiará do apoio do exército, incapaz de retomar o combate, visto que agora a URSS prefere uma aproximação política, ainda que forneça material defensivo adequado ao Egito, assim como infraestrutura econômica e industrial da melhor qualidade.

A partir da morte de Nasser, os diferentes setores da burguesia se agitam. Como consequência, em maio de 1971 acontece o afastamento dos dirigentes da esquerda nasserista, especialmente Ali Sabri e Shaarawi Gomaa. Uma aliança se faz entre a antiga burguesia liberal independentista (em volta de Mahmoud Fawzy, que preside o governo em 1970-1971) e a nova burguesia estatal que controla o setor público e o domínio socializado da economia (em torno de Aziz Sedky, que se tornou primeiro-ministro, e Sayed Marei, promovido a primeiro secretário da USA).

A classe rica realiza assim seu sonho: frear a radicalização do movimento nacional e, a termo, romper a alternativa progressista que representava o Cairo no coração do mundo árabe e do Oriente. Aí está o elemento que explica a política de Sadat: o distanciamento da União Soviética, que passou a aplicar uma política de coexistência pacífica e, no Oriente Próximo, a buscar equilíbrio entre os dois campos – e não a incitação a uma guerra de libertação nacional que poderia deteriorar perigosamente as relações soviético-americanas. Ao mesmo tempo, Sadat responde ao desejo da direita egípcia de ver a herança de Nasser liquidada sob o plano interno e externo.

O maior objetivo dessa operação era vencer as contradições do novo rumo usando todos os meios que o país dispunha política e militarmente, terminando com o radicalismo nasserista de tendência socialista. Mas a frente nacional assim enfraquecida poderá obter a restituição do Sinai ocupado e a criação de uma pátria palestina por uma mediação, desta vez especificamente norte-americana? Nada, aliás, permite pensar que Israel esteja disposto a renunciar à sua expansão territorial. Assim, o Ocidente terá obtido a neutralização do potencial revolucionário egípcio ao preço de improváveis “concessões” israelenses.

Em caso de derrota, o que fará Sadat? Retornará ao radicalismo da grande época nasserista, associando dessa vez as forças populares e os superiores militares na mobilização do país, tendo em vista uma guerra de libertação nacional prolongada? Ou obstinará na busca de uma solução política ao preço da soberania e da independência nacional?

As duas hipóteses partem de uma mesma realidade: a União Soviética, aliada histórica para o futuro – econômico, industrial, científico e tecnológico – do Egito, recusava categoricamente incentivar uma política para reconquistar militarmente as terras árabes ocupadas, pois julgava prioritária a política de coexistência pacífica com os Estados Unidos.

Portanto, manter uma imbricação estrutural profunda dos aparelhos militares do Cairo e de Moscou não tem mais sentido: pode-se considerar uma redução do nível da aliança no plano militar, ao mesmo tempo que se mantém a política da amizade e da aliança. Trata-se menos de uma vitória da direita que da busca, difícil mas inelutável, da libertação dos territórios conquistados por Israel em 1967.

A direita egípcia, como já dissemos, vem de longe: uma burguesia herdeira da “classe estatal” milenar, que mantém implacavelmente sua hegemonia. O anticomunismo não é um fato novo, mesmo se no governo há ainda dois representantes da esquerda marxista. Mas o peso decisivo é o do alto comando das Forças Armadas.

De qualquer maneira, o imperialismo norte-americano e seus aliados parecem doravante ter todas as chaves. É preciso interpretar a reorientação do curso militar como a prévia de uma capitulação, ou seja, o abandono do território nacional ocupado bem como da totalidade da causa árabe? Do realismo à “traição”, o círculo se fecha.

 

Muitas alternativas

Um exame atento dos parâmetros desmente essa interpretação: reduzir o nível dos compromissos militares com a União Soviética é uma coisa, capitular diante do ocupante é outra. Pois outras opções se apresentam: o Egito pode tentar estender suas alianças com o Oriente socialista, principalmente com a China, mas também com o Vietnã e a Coreia do Norte, mantendo suas ligações privilegiadas com a União Soviética e os Estados socialistas da Europa. Ele também pode apostar no Japão, terceira potência industrial do mundo vitalmente dependente do petróleo árabe, já que não dispõe de nenhuma fonte própria de hidrocarbonetos. O Egito pode finalmente aprofundar suas relações de amizade e cooperação com a Europa, capaz de lhe fornecer equipamentos pesados e armamentos...

Essa reorganização supõe também um forte reforço do potencial egípcio, especialmente na associação do petróleo árabe com a industrialização acelerada do país – o projeto de união com a Líbia se inscreve nessa perspectiva de racionalização. Finalmente, e sobretudo, implica mobilização política, econômica e ideológica a serviço de um projeto nacional de renascimento autocentrado. O Egito não colocaria em jogo seu destino em função de uma conjuntura militar e diplomática imposta pelo equilíbrio entre as grandes potências, e ainda mais de uma hegemonia estrangeira temporária. Sua supremacia são seus princípios, suas realizações, sua capacidade de mudar – com outros – a relação de forças estratégicas e históricas.

Tudo é possível, pensável e aceitável... Desde que o poder de decisão fique nas mãos das massas populares. O que não é o caso: o boicote, pela massa dos egípcios, das cerimônias, aliás modestas, do vigésimo aniversário da revolução de 1952 não deixa nenhuma dúvida a esse respeito. Eles deixaram solenemente claro que não tinham a intenção de partilhar nada – nem suas alegrias, nem seus sofrimentos – com um presidente que, ainda que tenha sucedido seu grande chefe desaparecido, não o substitui em nada. Amanhã como ontem, tudo dependerá deles: da maturidade, iniciativa e engajamento desse povo – operários e estudantes das cidades, fellahins (camponeses pobres), soldados e oficiais de origem modesta, pequena burguesia do setor público – que soube, em várias ocasiões, tornar-se mestre de seu destino.

 

Do Wafd à praça Tahrir

 21 de fevereiro de 1922 –A Grã-Bretanha, que ocupa o Egito desde 1882, concede a independência do país secretamente controlado por Londres. O sultão Fuad adota o título de rei no ano seguinte. Seu filho Faruk o sucederá em 1936.

1946 –Grandes manifestações contra os britânicos organizadas pela Comissão Nacional dos Trabalhadores e Estudantes.

23 de julho de 1952 –Sob a liderança de Gamal Abdel Nasser, os Oficiais Livres derrubam a monarquia; em 18 de junho de 1953, estabelecem a República, da qual Nasser logo se torna o líder indiscutível.

26 de julho de 1956 –Nasser nacionaliza a Companhia do Canal de Suez. O ataque lançado em represália pela França, Reino Unido e Israel, no outono, termina em fracasso.

5-10 de junho de 1967 –Derrota do exército egípcio contra Israel, que ocupa o Sinai.

29 de setembro de 1970 –Morte de Nasser. Ele é substituído por Anuar Sadat.

6-24 de outubro de 1973 –Guerra de outubro entre o Egito, aliado com a Síria, e Israel.

Janeiro de 1977 –Tumultos por causa da fome eclodem por todo o país. Quase setenta pessoas são mortas e milhares de outras são detidas.

26 de março de 1979 –Assinatura do tratado de paz entre Israel e Egito, em Washington.

6 de outubro de 1981 –O presidente Sadat é assassinado. Hosni Mubarak o sucede.

6-7 de abril de 2008 –Revolta do pão na capital e na cidade industrial de Mehallah, causada pela disparada dos preços.

25 de janeiro-11 de fevereiro de 2011 –Após três semanas de mobilização popular no Cairo e nas grandes cidades, Mubarak renuncia.

Anouar Abdel Malek

Sociólogo



Ilustração: Robert Walker / The NEw York times / Latinstock