A Assembleia de 31 de Agosto de 2011 na UFAL, relato de Sérgio Lessa

04/09/2011 22:39

A Assembleia de 31 de Agosto de 2011 na UFAL

 

Sérgio Lessa

 

A assembleia dos professores da UFAL do último 31 de agosto foi excepcional.

Ela tinha tudo para não ocorrer: o local era péssimo; o som, inexistente. Iniciou com mais de duas horas de atraso e entrou pela tarde. A Adufal já havia capitulado ao governo e o Andes-SN  sancionava a capitulação nacionalmente. O golpe de graça na disposição de luta dos professores seria dado com a maciça presença do Partido da Reitoria (porção considerável dos docentes, mas minoritária, que se alinha com a reitoria). Alguns estudantes (minha avaliação é de cerca de 25) foram defender suas formaturas contra do direito de greve -- um individualismo manipulado por alguns professores.

Fosse uma assembleia como as outras, seria impossível manter a campanha salarial, quanto mais iniciar uma greve.

A Assembleia demonstrou o que subestimamos: a insatisfação dos professores com os rumos da universidade. O nepotismo, as manifestações de certo espírito oligárquico, o autoritarismo até nas pequenas ações no cotidiano da vida acadêmica, etc., não passam, lembremos, da continuação do cerco brutal do CONSUNI, em uma jaula de ferro circundada pela Polícia Federal no início do atual reitorado, quando da aprovação do REUNI.

A expansão da UFAL para o interior seguiu o mesmo espírito oligárquico. O interior deveria se contentar com um padrão acadêmico inferior ao da capital. Criou-se uma instância de segundo nível na vida acadêmica: piores cursos, currículos rebaixados, maiores jornadas de trabalho, piores instalações, piores condições de trabalho para os professores e técnicos. Os acordos firmados entre a reitora e os poderes locais com frequência violam o mais palmar nível da liberdade de cátedra e de autonomia universitária. Às justas demandas trazidas pelos novos cursos, as respostas são sempre inconclusivas e procrastinadoras— acompanhadas de veladas ameaças de punição aos professores em estágio probatório ou aos professores contratados.

A tentativa, com a simpatia da mesa da assembleia, de impedir a votação dos professores do interior alegando que não eram filiados ao sindicato (ainda que a Adufal não os tenha sindicalizado) escancarou o alinhamento da diretoria do sindicato à reitora. O apoio do Partido da Reitoria à mesa da Assembleia confirmou o que já se sabia: trata-se de negar voz e representação aos ditos "professores-de-segunda-linha" da dita "UFAL-de-segunda-linha" do interior. Uma inaceitável, porque absurda, segregação.

A esta insatisfação somou-se o descontentamento gerado pela traição da diretoria da ADUFAL e pela arrogância que vinha da certeza de que, com o apoio organizado pela reitoria, esta traição passaria impune. O corpo docente corretamente associou a traição da diretoria de seu sindicato local com a opressão e desmandos do Partido da Reitoria na direção da Universidade.

Naquela manhã, a assembleia ganhou uma dinâmica própria. O primeiro ganho de momentum foi quando o presidente do sindicato foi forçado, depois de várias manobras, a admitir que traíra sua base. A segunda elevação do momentum foi quando a maioria dos professores associados ao sindicado se deslocou para a frente do palanque da mesa da assembleia em apoio ao direito de voto dos professores não associados. O terceiro ganho de impulso foi quando se generalizou a impressão de que a contagem dos votos favoráveis ao acordo teria sido manipulada pela mesa e adotou-se o procedimento de os docentes se deslocarem por um funil para a contagem dos votos. Uma última tentativa – patética segundo as narrativas – de reverter o quadro foi realizada no prédio da reitoria. Os poucos professores ali lotados que ainda não haviam obedecido à determinação de comparecer à Assembleia foram instados a cumprir a ordem imediatamente.

Sem sequer uma defesa contundente, a diretoria da Adufal foi abandonada por seus tradicionais apoiadores. Foi impressionante o desamparo em que foram deixados os diretores que estavam na mesa.

Com a derrota do Partido da Reitoria na contagem em voz alta nas duas votações, a primeira contra o acordo assinado pelo governo e, a segunda, pela deflagração da greve, a Assembleia explodiu em uma manifestação de alegria coletiva como nunca se viu. Aprovou-se, então, duas moções de repúdio, contra as diretorias do Andes e da Adufal.

A greve, aprovada na Assembleia do dia 31, é uma autêntica greve de protesto. Não havia qualquer expectativa de que conseguiríamos reverter o acordo já assinado: foi a forma encontrada pelos professores presentes para manifestarem sua indignação e revolta contra o Partido da Reitoria e a proposta indecente de 4% de aumento dos salários.  Tendo como pano de fundo, é importante não menosprezar este aspecto, as políticas de desvalorização da educação dos últimos governos sempre defendidas e implantadas pela reitoria.

 

O dia seguinte

 

 Se a Assembleia que deflagrou a greve teve tantos elementos inéditos e uma dinâmica não menos surpreendente, a greve também se iniciou de forma muito diferente das outras experiências. Na manhã da quinta-feira, o mutirão do Comando de Greve encontrou menos de 10 salas com aula.  A adesão espontânea dos professores foi muito acima das greves mais recentes. Os estudantes convocaram uma assembleia do DCE para discutir uma greve e os funcionários acamparam na reitoria. Nos campi do interior do Estado, o movimento reivindicatório que já vinha em andamento, muito mais organizado e consistente que a greve na Capital, ganhou novo empuxo. Uma manifestação está marcada para Viçosa no dia 5 de setembro.

Contudo, o Partido da Reitoria se recompôs. Ameaças veladas de impugnação da Assembleia do dia 31 por meios legais, alegando-se o voto dos professores não associados, aparecem aqui e ali. A Reitora decidiu tomar a situação em suas mãos e convocou uma reunião com as unidades acadêmicas. Nem o reitor já eleito, hoje seu vice, apoiou sua proposta de punir os professores grevistas. Ainda assim, os chefes das unidades foram incumbidos de mobilizar seus professores contra a greve. Os relatos de ameaças e assédio moral sobre os professores que aderiram à greve se sucedem, principalmente, mas não apenas, no interior do Estado. Alguns poucos professores saem a campo com uma animosidade que é apenas outra expressão do espírito oligárquico que caracteriza este reitorado.

A diretoria da ADUFAL faz o que pode para atrapalhar a mobilização – protelando o fornecimento dos meios materiais imprescindíveis sempre que politicamente lhe é possível, não divulgando em sua página na internet as decisões da assembleia, o que inclui a moção de repúdio contra ela própria, sendo conivente com a oposição ao movimento de greve – como ainda se mantendo ausente da luta.

Abre-se, assim, a semana do dia 7 de setembro com a perspectiva de uma Assembleia dos professores em que o Partido da Reitoria fará de tudo para superar seu desgaste do dia 31. Resta ver qual será a capacidade de mobilização do Partido da Reitoria frente à indignação generalizada nos docentes da UFAL.



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Sergio Lessa
Prof. Departamento de Filosofia - UFAL
www.sergiolessa.com